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Horário
2.ª - 6.ª 09h30 - 19h30 /
sáb. 09h30 - 17h30
Visita guiada por João Alves Dias
19 nov. | 16h00
Sujeita a
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1.ª edição da Peregrinação na BND
Folha de sala

Apoios:

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Muitas e muito estranhas cousas que viu e ouviu...
O primeiro século de edições da Peregrinação (1614-1711)
MOSTRA | 4 nov. '14 - prolongada até 31 mar. '15 | Sala de Referência | Entrada livre
![Folha de rosto de «Peregrinaçam de Fernam Mendez Pinto em que da conta de muytas e muyto estranhas cousas que vio & ouvio no reyno da China, no da Tartaria , no do Sornau, que vulgarmente se chama Sião, no do Calaminhan, no de Pegù, no de Martavão, & em outros muytos reynos & senhorios das partes Orientais, de que nestas nossas do Occidente ha muyto pouca ou nenhu[m]a noticia. E tambem da conta de muytos casos particulares que acontecerão assi a elle como a outras pessoas...» / escrita pelo mesmo Fernão Mendez Pinto. - Em Lisboa : por Pedro Crasbeeck 1614.](/images/stories/agenda/2014/peregrinacao_res-4409-v.jpg)
Muitas e muito estranhas cousas que viu e ouviu... é um dos subtítulos da obra que Fernão Mendes Pinto construiu para nela narrar o muito que de extraordinário viveu e presenciou.
A Peregrinaçam se fosse escrita hoje, século XXI, continuaria a ser um livro polémico. Polémico porque nos mostra o descobridor português tal como ele foi: num momento aventureiro, num momento soldado, num momento ladrão, num momento mercante, num momento crente, num momento missionário, num momento embaixador, num momento homem... mas quase sempre diferente e distante daquela figura nobre e exemplar que todos gostaríamos que tivessem sido os descobridores. Fernão Mendes Pinto coloca na boca de Raja Benão, apresentado como um velho conselheiro e interlocutor do rei dos Tártaros, mas que não é mais do que um alter ego, esta apreciação sobre os portugueses: … homens que por indústria e engenho voam por cima das águas todas para adquirirem o que Deus lhes não deu, ou a pobreza neles é tanta, que de todo lhes faz esquecer a sua pátria, ou a vaidade e a cegueira que lhes causa a sua cobiça é tamanha, que por ela negam a Deus e a seus pais (cap. 122). É essencialmente por ser um livro polémico, que descreve a realidade que o Outro não conhece (ou em que não quer acreditar), conseguindo ironizar e criticar, que o seu autor recebe o ápodo de mentiroso! O próprio autor tem consciência dessa probabilidade: … que é muito para se recear contá-lo, ao menos a gente que viu pouco do Mundo: porque esta, como viu pouco, também costuma a dar pouco crédito ao muito que outros viram. (cap. 14).
Mas não é a biografia de Fernão Mendes Pinto que nos interessa nesta exposição: 1614 nada representa na vida desse escritor que nasce em Montemor-o-Velho, circa 1510, e morre em Almada, no Pragal, a 8 de julho de 1583.
O que hoje se evoca são os 400 anos que passam sobre a impressão da sua obra e o impacto, a fortuna, que a mesma teve em todo o Mundo. O que está presente é a aventura de uma obra, na vertente das suas muitas e diferentes edições ocorridas entre 1614 e 1725. O herói da exposição é o livro, enquanto livro.
Foi na época a obra portuguesa que conheceu o maior número e variedade de traduções impressas. Se Os Lusíadas (1572), de Luís de Camões, um seu contemporâneo, foi traduzida para castelhano (1580), latim (1622), inglês (1655) e italiano (1658), no primeiro século após a sua impressão, a Peregrinação (1614) foi-o para castelhano (1620), francês (1625), neerlandês (1652), inglês (1653) e alemão (1671) todas conhecendo diferentes impressões e edições, algumas delas apresentadas nesta exposição pela primeira vez. As surpresas (que foram uma constante) registadas ao longo da elaboração do catálogo, obrigaram a um confronto suplementar: o da observação de todos os exemplares das obras expostas. Optou-se, assim, por apresentar no momento da inauguração um Guia da Exposição – onde o visitante pode observar e apreender toda a investigação – enquanto não se consegue o confronto de todos os exemplares conhecidos de todas as edições da Peregrinação impressas nos séculos XVII e XVIII.
Ilustram e animam a exposição as doze gravuras abertas a buril, na Holanda, em Amesterdão, entre 1652 e 1671 e gradualmente impressas durante esse período nas edições em neerlandês e em alemão. Através delas, o texto de Fernão Mendes Pinto ganha alma. O leitor consegue ver e acompanhar a narrativa.
Lisboa, 1 de novembro de 2014 João Alves Dias
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