
A mostra
A Ética da Mão constitui uma retrospetiva do trabalho de gravura de David de Almeida. São apresentadas as obras que foram Prémio Nacional de Gravura da Fundação Gulbenkian em 1980 e várias gravuras premiadas desde então, muitas delas nunca antes expostas em Portugal. A mostra pretende ainda enaltecer o valor criativo desta técnica de que o artista é um dos expoentes.
As obras selecionadas distribuem-se por dois núcleos distintos, ocupando dois espaços expositivos da BNP. Um na Galeria do Auditório, intitulado Tempos, reúne obras do final dos anos 70 até à década de 90, em que o artista evoca o passado para o materializar e lhe restituir atualidade. O outro, Essência, mostrado na Sala de Exposições, permite a reflexão sobre a arte moderna, numa abordagem aparentemente minimalista, mas onde não deixam de estar presentes a marca humana e um certo olhar arqueológico.
A sua vivência em alguns países afetos ao passado de Portugal, particularmente em Marrocos, determinará a evocação de alguns momentos da nossa história e a sua experiência do lugar, num conjunto de gravuras dos anos 70 ainda marcadas pelos processos tradicionais. Com a série
Exercícios Líticos, do início dos anos 80, David de Almeida introduz uma nova linguagem, resultante

do apuro experimental da opção de ser artista-gravador. Neste série torna matriz conhecidas gravuras rupestres com milhares de anos, devolvendo à posteridade o seu resultado impresso. Nos anos 90 David de Almeida explora este encontro com o homem pré-histórico noutras séries de maior cromatismo e desenvolve uma outra série,
A Gravura Antes da Gravura, relativa aos diversos períodos de formação da Terra.
Usando a forma de gravar por si criada, a partir do final dos anos 90, reduz ao essencial, num minimalismo ilusório, os elementos que elege como temas. Nesta época, inicia também um diálogo com a história de arte moderna e contemporânea, homenageando artistas que contribuíram para a sua formação estética. A obra, pautada pelo rigor mas humanizada, assenta numa geometria, interna e invisível, que a suporta.
A mostra complementa-se com um conjunto de Livros de Artista, realizados pelo autor em cumplicidade com a palavra, incluindo colaborações com Manuel Alegre, Sofia de Mello Breyner, João de Melo, José Saramago e o espanhol Tomás Paredes. Tomando o papel como suporte, o artista eleva esse material a uma categoria superlativa. Longe da voracidade do livro digital, estes Livros de Artista, tal como as suas gravuras, foram feitos para serem tocados e folheados por mão humana. E com um sentido ético contemporâneo que respeita o valor da ancestralidade.
A exposição, acompanhada de um catálogo com a reprodução das obras, é comissariada por João Prates, diretor do Centro Português de Serigrafia, sendo efetuada em parceria com a Câmara Municipal de Vila Velha de Rodão, onde também será mostrada, e com a Biblioteca Nacional de Portugal.