Realizou-se em Abril de 2009 a primeira etapa da integração do Espólio de Jorge de Sena na BNP. Trata-se da parcela que se encontrava, desde há vários anos, à guarda da Fundação Calouste Gulbenkian. O remanescente do espólio, ainda em Santa Bárbara, na Califórnia, será posteriormente incorporado por fases tal como a biblioteca do escritor.
A exposição, que assinalou esta primeira transferência exibindo peças nela incluídas, revelou ao público alguns manuscritos de Jorge de Sena –
Sinais de Fogo,
Os Amantes,
Líricas Portuguesas, diários, cadernos de poesia, textos publicados na imprensa portuguesa ou brasileira e de conferências e palestras, nomeadamente o discurso proferido no
Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portugueses a 10 de Junho de 1977. E sugere momentos da biografia do escritor, da infância à maturidade, com a inclusão de documentos de natureza epistolar e biográfica.
No núcleo existente sobressai o epistolário, particularmente o familiar - cartas trocadas com Mécia de Sena, bem como correspondência dos filhos e dos progenitores. Mas integra ainda missivas de Alberto de Serpa, Edith Stiwell, Eugénio de Andrade, Guilherme de Castilho, José Régio, Rui Belo, Rui Cinatti e Vergílio Ferreira. E, para além dos manuscritos já referidos, o Espólio de Jorge de Sena é, para já, complementado com transcrições dessa correspondência, documentos biográficos e documentação de natureza museológica.
O escritor nasceu em Lisboa, a 2 de Novembro de 1919, e faleceu em Santa Barbara, Califórnia, a 4 de Junho de 1978. É hoje considerado um dos grandes poetas de língua portuguesa e uma das figuras centrais da cultura do nosso século XX.
Jorge de Sena, que começara a escrever em 1936, acaba por se licenciar em Engenharia Civil (1944) pela Universidade do Porto, trabalhando na Junta Autónoma de Estradas de 1948 a 1959, ano em que se exila no Brasil, receando as perseguições políticas resultantes de uma falhada tentativa de golpe de estado, a 11 de Março desse ano, em que estava envolvido. A mudança para o Brasil permite-lhe uma reconversão profissional, dedicando-se ao ensino da literatura, acabando por se doutorar em Letras, em 1964, obtendo também o diploma de Livre-Docência, para o que tivera previamente que naturalizar-se brasileiro (1963).
Os anos de Brasil (1959-65), são talvez o seu período mais criativo: completa a sequência de poemas sobre obras de arte visual,
Metamorfoses, escreve os experimentais
Quatro sonetos a Afrodite Anadiómena, as metamorfoses de
Arte de Música e a novela
O Físico Prodigioso, inicia o romance
Sinais de Fogo, investiga e publica sobre Luís de Camões e o Maneirismo, trabalha na edição do
Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, retoma a escrita para o teatro,
etc. A alteração da situação democrática no Brasil, com o golpe militar de 1964, dita a sua mudança, em Outubro desse ano, para a University of Wisconsin, Madison, transitando, em 1970, para a University of California, Santa Barbara (UCSB). Durante a sua permanência na UCSB, até ao final da vida, ocupa os cargos de director do Departamento de Espanhol e Português e do Programa (interdepartamental) de Literatura Comparada.
A obra de Jorge de Sena, vasta e multifacetada, compreende mais de vinte colectâneas de poesia, uma tragédia em verso, uma dezena de peças em um acto, mais de trinta contos, uma novela e um romance, e cerca de quarenta volumes dedicados à crítica e ao ensaio, à história e à teoria literária e cultural, ao teatro, ao cinema e às artes plásticas, de Portugal, do Brasil, da Espanha, da Itália, da França, da Alemanha, da Inglaterra ou dos Estados Unidos, sem esquecer as traduções de poesia, de ficção, de teatro e ensaio.