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Autógrafos de Fernando Pessoa



Com o generoso patrocínio da REN - Redes Energéticas Nacionais, SGPS, S.A., o Ministério da Cultura adquiriu, no leilão realizado pela empresa Potássio4, em 13 de Novembro de 2008,  um importante conjunto de autógrafos de Fernando Pessoa que passaram a integrar o Espólio do Poeta à guarda da BNP;


00_fp[Carta, 19--, Lisboa, s.n., s.l. / Fernando Pessoa]. – 1 p. ; 22,8 x 17,2 cm
Rascunho autógrafo a tinta preta com emendas. – Na margem superior desenho de símbolos de ordens militares e três linhas de texto riscado. 

Rascunho de carta a destinatário desconhecido e em nome de «seus muito amigos», congratulando-se pelo respectivo aniversário. A carta vai escrita no tom irónico muito característico do génio pessoano: «Com a regularidade do costume, faz o Dr. anos este ano no mesmo dia que no ano passado. Admiradores que somos dessa regularidade, que com certeza teria prémio num colégio, não queremos deixar de o felicitar por ela e de lhe desejar que muitas vezes continue no mesmo sistema, sem que alguma cousa o impeça de se declarar muito satisfeito com essa repetição…»


01_fpLe commencement de la foi / [Fernando Pessoa]. – [19--]. – [24] p. em 16 f.; 11,5 x 8,5 cm
Autógrafo a tinta preta e lápis azul sobre folhas impressas de “Memorandum”, picotadas na margem superior. – Páginas numeradas de 1 a 21, com repetição do número 17. As últimas 4 folhas não apresentam qualquer numeração. 

Trata-se de um texto extenso, escrito em francês, provavelmente incompleto, e de difícil leitura. Com duas campanhas de escrita, a primeira, e mais extensa, a tinta preta e a segunda, e mais breve, a lápis azul, inclui, ao contrário do que o título Le commencement de la foi poderia fazer crer, reflexões sobre doutrina política. No início da segunda página e folha parece poder ler-se: «L’antipatriotisme, le socialisme, l’anarquisme ne valent rien en soi; ce n’est que quand on les envisage comme symptômes...», seguindo-se observações sobre as características de diversos povos, mais ou menos «intuitivos», como os ingleses, e suas adaptações aos diferentes regimes políticos.


02_fp[Carta], 1915 Jul. 6, Lisboa ao] Director de A Capital, [Lisboa] / Alavaro [sic] de Campos, engenheiro e poeta sensacionista. – 1 p. ; 21,7 x 15,7 cm
Dactiloscrito a tinta vermelha com emendas e nota autógrafa, a tinta preta, na margem esquerda e na perpendicular. Menção de autoria a tinta azul. – Reproduzida em fac-simile no catálogo da exposição, organizada por Teresa Rita Lopes e Maria Fernanda de Abreu, Fernando Pessoa el eterno viajero. Lisboa: SEC, 1981. Publicada, sem referência à nota autógrafa, em Fernando Pessoa – Correspondência. Lisboa: Assírio & Alvim, 1999, 1º vol., p. 167, edição organizada por Manuela Parreira da Silva.

O texto da carta é conhecido e representou um dos “momentos quentes” da apresentação pública do «grupo de Orpheu», ganhando, por essa circunstância especial relevância testemunhal. Assinado por Álvaro de Campos, refere-se, no final, ao acidente de que foi vítima Afonso Costa, referência sarcástica que deu origem a troca de comentários mais ou menos azedos nos jornais da época contra o grupo. O original adquirido está dactiloscrito e apresenta, além de algumas correcções de dactilografia, por sobreposição, que não alteram substancialmente o conteúdo, uma nota autógrafa, a tinta preta na margem e na perpendicular em relação ao texto, até agora desconhecida dos editores, referindo o drama «Os Jornalistas», de cuja representação se falava na Imprensa, como fantasia em «Que entram trez jornalistas apenas. O pano sobe ⌠com efeito⌡só até meio metro de altura de modo que pouco mais se vê do que os doze pés dos personagens».


03_fpFab. N. J. [i.é Fábula para as Nações Jovens / Fernando Pessoa]. – [19--]. – 1 p. ; 27,5 x 21,5 cm
Dactiloscrito com emendas e acrescentos autógrafos a tinta preta. – Desenvolvimento do título baseado em Pessoa inédito. Lisboa: Livros Horizonte, 1993, p. 422, organizado por Teresa Rita Lopes. 

Intitulado Diálogo cómico entre um cristão e um católico no catálogo do leilão, o texto está encimado pelas abreviaturas Fab.N.J. que parece possível desenvolver em Fábulas para as Nações Jovens, por confronto com outros documentos do espólio guardado na BNP, já publicados por Teresa Rita Lopes. Está dactiloscrito, mas apresenta diversas correcções autógrafas a tinta preta que marcam não apenas alterações que a sequência da dactilografia poderia fazer admitir como consolidadas, mas também expressões que fazem supor que aquela sequência se apresentava ainda ao autor como instável. Onde, por exemplo, se lê, na versão dactiloscrita: «Não, não concordo» repetidas vezes, noutro passo pode ler-se, após a correcção autógrafa, «Sim, talvez, não sei se concordo».


04_fp[Apontamentos sobre Cabala / Fernando Pessoa]. – [19--]. – [4] p. 2 f.; 11,5 x 10,5 cm
Autógrafo a tinta preta com duas notas a lápis e duas linhas, no início, riscadas. – Textos separados com traços horizontais. – Inclui notas bibliográficas e um pequeno desenho antropomórfico indicando a posição das dez Sephirots. Á direita deste e a lápis, apontamento para provável elaboração de horóscopo. 

Texto escrito a tinta em duas pequenas folhas de tipo “ficha de leitura”. Inclui notas sobre filosofia hermética, fazendo expressa referência a autores e títulos identificáveis (Dufresnoy, Histoire de la Philosophie Hermétique, 1742, por exemplo). Inclui um pequeno desenho indicando a posição no corpo humano das dez Sephirots e, no verso, apontamentos ou comentários de Pessoa sobre as emanações e os quatro elementos.


05_fpQuem spera sempre, spera sempre em vão : [1.º v.] / [Fernando Pessoa]. – 1922 Abr. 22. – [1, 1] p. 1 f. ; 10,3 x 21,4 cm
Autógrafo a tinta preta. – Inclui, nas margens, operações aritméticas, a lápis. No verso apresenta um plano de publicação ou publicações culturais na metade superior e, na inferior, texto escrito na perpendicular, riscado.

Poema autógrafo. Tem, no verso, um plano de uma publicação, ou de diversas publicações culturais, sobre «temas económicos e financeiros», «temas jurídicos», «temas vulgares», etc.


06_fpHamlet : [fragmento / de William Shakespeare; trad. de Fernando Pessoa]. – [ca 1920]. – [1, 1] p. 1 f. ; 32 x 22 cm
Autógrafo a tinta preta. – Fragmento de tradução do Acto I, Cena I. – Data baseada na dos poemas em língua inglesa, escritos no verso da folha, a lápis e a 2 colunas. Incluem a menção “Copied”, estão datados de “6-11-1920” e anulados com traços oblíquos..

Texto que testemunha, entre muitos outros rascunhos de traduções de textos clássicos guardados na BNP, a intensa actividade de tradução que Pessoa praticou, não apenas com propósitos de edição comercial. O documento tem no verso, com a menção Copied dois poemas em inglês, datados de 6-11-1920, provavelmente não integrados nas plaquettes publicadas em 1918, Antinous e 35 Sonnets e em 1922, English Poems I-II e English Poems III.


07_fpAnthologia portugueza : [projecto / Fernando Pessoa]. – [19--]. – [2] p. 1 f. ; 21,9 x 16,2 cm
Autógrafo a tinta preta. 

Projecto para a edição de uma antologia de autores portugueses que reuniria textos de Soares dos Reis, José Anastácio da Cunha, João de Lemos, António Molarinho, Guerra Junqueiro, António Nobre, Cesário Verde, José Duro, Alberto Osório de Castro, Camilo Pessanha, Jaime Cortesão, Augusto Gil, Henrique Rosa, Angelina Vidal, Gomes Leal, Afonso Lopes Vieira, Tomás Ribeiro, Camilo Castelo Branco e Antero de Quental, relevante para a compreensão das leituras e juízos feitos por Pessoa, ao que supomos perto do seu regresso da África do Sul, sobre a poesia portuguesa dos séculos XIX e XX.


08_fpReceita / [Fernando Pessoa]. – [192?-193-]. – [6] p. 3 f. ; 22,7 x 17 cm
Autógrafo, a lápis. – Apresenta a segunda folha numerada com 2 e a terceira paginada com 3 e 4.– Provável proposta articulada com promoção turística de Portugal.

Texto escrito a lápis contendo algumas observações sobre a promoção turística de Portugal, incluindo projectos de publicações várias nesse sentido e reflexões sobre a natureza do «empreendimento» necessário para as levar a termo.






09_fp“Book-plans, notes, etc.” / [Fernando Pessoa]. – [191?-193-]. – [22] p. 20 f. + 1 f. dobr. ; máximo de 27,5 x 21,5 cm
Autógrafo, a lápis e tinta preta, e dactiloscrito a tinta preta e azul. – Título a lápis em folha dobrada formando capa. – Conjunto de projectos em f. de várias dimensões, aqui identificados pelo título ou incipit: “Ficções do Interludio”, “Cancioneiro, liv. I a IV [inc.]”, “Para o livro Episodios”, “Trad. Banqueiro para inglez (e franc.) [inc.]”, “1. ‘Acção’ [inc.]”, “Pequenas Edições”, “Booklets”, “Edições da GCP”, “Epigrammas Portuguezes”, “Diccionario Techico Commercial e Industrial para uso de Escriptorios, etc.”, “3 secções”, “1. The Jews and Freemasonry [inc.]”, “Plan of translations”, “1. ‘Portugal’. [inc.]”, “Drawing room Stories (2 f.)”, “The Best English Epigrams and Poetic Trifles”, “Year Books”, “Fco Ferreira e Avila, Lda. [inc.]”, tendo na 1ª linha, riscado, “Torcida de candeeiro – [pagar]” e, no verso, figuras geométricas e palavras riscadas, e “Os grandes Contos de Horror e de Angustia”.

Conjunto de 19 planos, na maioria dactiloscritos, com o mérito de conservar, a envolvê-lo, uma folha dobrada com a menção autógrafa acima indicada. Sabe-se que outras capas e envelopes em que Fernando Pessoa guardou os escritos que ia classificando para posterior desenvolvimento e/ou edição não foram conservados, o que torna este, de algum modo, raro e paradigmático. Cada documento inclui um plano ou projecto editorial, seja da obra própria de Pessoa, em poesia ou prosa, seja, ainda de projectos de antologias e traduções de textos em língua inglesa para português e vice-versa. Inclui, também, listas de livros e revistas que Pessoa desejava adquirir ou assinar. O conjunto cobre um período cronológico extenso, já que alguns dos planos parecem ter sido elaborados na segunda década do século XX e outros parecem ser já dos últimos anos de vida de Pessoa.


10_fp«O sr. Ministro da Justiça, que accumula»» : [inc.] / [Fernando Pessoa]. – [1935 post. Ago. 18]. – [7] p. 6 f. ; máximo de 27,6 x 21,5 cm
Autógrafo a tinta preta com emendas e acrescentos. – Escrito no verso de impresso de factura de “F. A. Pessoa”. – Datação baseada em Barreto (2008: 199). – Apresenta apenas a numeração 2 repetida em duas folhas. – Última folha de pequena dimensão.

Extenso rascunho de um texto em forma de resposta ao discurso que Manuel Rodrigues Júnior, condiscípulo de Oliveira Salazar e Mendes dos Remédios em Coimbra e Ministro da Justiça do Estado Novo entre 1932 e 1940 – a quem Pessoa chama ironicamente também «Secretário de Estado da Argumentação» – pronunciou em Viana do Castelo, em Agosto de 1935. Como diz Pessoa, o discurso, «na forma oficiosamente impressa, tem por título A Ética Politica do Estado Novo. Pretendeu, nesse discurso, o Prof. Manuel Rodrigues apontar “a missão do homem do Estado Novo” e defini-la em poucas palavras, isto é em sete ou oito colunas do Diário da Manhã.» Bem ao seu jeito, Pessoa passa a explicar que «os ouvintes ou leitores da oratória, aritmeticamente paragráfica, do Prof. Manuel Rodrigues, se não sabiam antes o que era a ética política do Estado Novo, não o ficaram sabendo depois; o que lhes deve ter acontecido é ficar definitivamente sem saber o que é ética, o que é política, e o que é Estado Novo…» para vir a terminar, lapidarmente com a pergunta/resposta: «Em que ficamos? Ficamos nisto ─ que o Prof. Manuel Rodrigues não sabe que ideias tem, pela simples razão que não tem nenhumas.»

11_fp

GCP [i.é Grémio de Cultura Portuguesa : projecto / Fernando Pessoa]. – [19--]. – [3] p. ; 22,3 x 10,3 cm
Autógrafo a tinta preta. 

Projecto autógrafo de edição, pelo Grémio de Cultura Portuguesa (GCP), de uma revista sobre Portugal, «de edição comercial em inglês». Inclui estimativa de custos de «advertisements», «Subscrições para o Grémio», «Despesas do Grémio», «printing office», etc. No final da primeira folha inclui, enigmática, a pergunta: «Shall this start now?»









12_fpEscriptos orthonymos : [projecto / Fernando Pessoa]. – [1928 ou posterior]. – [1, 1] p. 1 f. ; 27 x 21 cm
Dactiloscrito com emendas e acrescentos autógrafos a tinta preta e lápis. – Data baseada em informação do próprio texto. – Inclui, no verso e escrito em sentido inverso, lista de obras de Mário de Sá-Carneiro.

Resumo dos escritos ortónimos de Pessoa, dactiloscrito, com diversos acrescentos autógrafos a tinta e a lápis, fazendo, em campanha posterior, referência aos escritos heterónimos Parece constituir um apontamento preparatório dos testemunhos auto-biográficos que Pessoa incluiu nas sucessivas cartas enviadas a João Gaspar Simões e que, mais tarde, foram por si mesmo utilizados na redacção da «Tábua Bibliográfica» publicada na Presença em Dezembro de 1928 (nº 17). Inclui, no verso, uma listagem das obras de Mário de Sá-Carneiro.


13_fp[Dossiê sobre Aleister Crowley] / Fernando Pessoa [e outros]. – 1929 Nov. 22 - 1931 Dez. 3. – [ca 315] f. ; máximo de 27,5 x 21,5 cm
Constituído por Fernando Pessoa, este fundo tem por base uma blague ou mistificação inspirada pelo falso suicídio de Aleister Crowley na Boca do Inferno em Cascais. Criador literário de língua inglesa, erudito, esoterista e um dos mentores da Ordem Hermética da Golden Dawn (que fundia a Cabala prática com a Magia Greco-Egípcia), o episódio esteve na origem duma novela  policiária de concepção pessoana intitulada The Mouth of Hell.

Conjuntos mais significativos:

Trechos da novela The Mouth of Hell
Dotada de personagens em que se inclui o próprio narrador e imbuída duma ambiência e topografia lisboetas, dispõe de um capítulo mais longo denominado «A Study in Complexity» acerca de Crowley, «a very remarkable personality» e «writer of signal power and distinction», também ele, «a dirty degenerate», tal como Shakespeare o teria sido, segundo Pessoa, à luz da psiquiatria moderna.

13b_fpProjectos editoriais
Instâncias frequentes no espólio de Fernando Pessoa, nelas se incluem planos descritivos (no caso da novela Boca do Inferno / The mouth of Hell a estrutura de alguns capítulos e a própria evolução narrativa), ou a simples inventariação de títulos esclarecendo desígnios futuros da actividade do escritor.

Ensaios prefaciais
Fragmentos e trechos para a novela que constitui o centro deste fundo documental. Na sua maioria em inglês, para uma obra que o autor considerou «example of detection in real life».





13d_fpRevistas e documentos da época:
Notícias Ilustrado (edição semanal do Diário de Notícias, 5. Out. 1930) onde a reportagem Mistério da Boca do Inferno e o Desaparecimento do Escritor, apareceu sob o nome do jornalista Augusto Ferreira Gomes. O seu redactor havia sido, contudo, Fernando Pessoa e as ilustrações e imagens fornecidas pelo protagonista, instalado na Alemanha após a grande blague alimentada pela conivência de Pessoa.
Détective, Le grand hebdomadaire des faits divers, de 2 Maio 1929 (que apresentara Le Mage Indésirable) e de 30 0ut. 1930, onde a reportagem L´Énigme de la Bouche de l´Enfer (redigido em francês por Fernando Pessoa, mas assinada por A.F. Gomes, então residindo em Paris), ganhou repercussão internacional.



13e_fp
Correspondência para:
Israel Regardie, judeu americano. Conheceu  Aleister Crowley aos 20 anos. Estudante de arte foi seu secretário e responsável, em Inglaterra, pelo seu património literário. Fundou e dirigiu a Mandrake Press. Hermetista erudito, publicou Ritos da Golden Dawn.

Mandrake Press, editora que fazia chegar às mãos de Crowley as cartas idas de Portugal a fim de que a mistificação não fosse desmontada.

13e4_fpHanni Larissa Jaeger, uma das mulheres escarlates do Mago inglês que colaborou com ele no simulacro em Cascais.

Karl Germer nascido na Alemanha e representante de Crowley em Nova Iorque. Em 1935 foi detido pela Gestapo e internado num campo de concentração tendo mais tarde emigrado para a Califórnia.

Augusto Ferreira Gomes. Jornalista e amigo de Fernando Pessoa, íntimo de alguns decisivos momentos do percurso intelectual e humano do Poeta.



13f_fpHoróscopos
São numerosos os horóscopos deste fundo documental e os estudos das questões horárias.

Tradução inglesa:
poema O Último Sortilégio, The Last Spell na versão inglesa, de algum modo réplica ao Hymne to Pan de Aleister Crowley, traduzido para português por Pessoa com vista à sua publicação na revista Presença.