Cruzeiro Seixas: Experiências d'Áfricas.
Liberdade, Colonialismo e Poesia
SEMINÁRIO | 6-7 fev. '25 | 14h30-19h00 / 10h00-19h30 | Auditório | Entrada livre
O Seminário "Cruzeiro Seixas: Experiências d´ Áfricas. Liberdade, Colonialismo e Poesia" pretende apresentar e debater a densidade e complexidade da vivência colonial do poeta e artista Artur Manuel Cruzeiro de Seixas (1920-2020), figura maior do Surrealismo em Portugal, a partir de pesquisa nos principais núcleos em que se encontra atualmente o acervo de Cruzeiro Seixas: na Biblioteca Nacional de Portugal, na Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão e no Arquivo Histórico da Universidade de Évora.
Considerando os resultados da pesquisa em diversas perspetivas, as sessões do Seminário atenderão ao período inicial em Lisboa, até 1950, de formação e de participação do jovem artista no grupo dos "Surrealistas"; ao tempo em que o esteve na Marinha Mercante, entre 1950 e 51, fazendo o périplo pelas colónias portuguesas a bordo do "Rovuma"; mas, sobretudo, ao período em que viveu em Angola, entre 1952 e 1964.
Vivendo em Luanda, onde participava ativamente na vida social, intelectual e artística, ele pode realizar extensas viagens pelo país, enquanto vendedor de rádios e de apólices e pintor de publicidade, o que lhe permitiu recolher peças de uso quotidiano e ritual, mas também conhecer diretamente e documentar o exercício do poder colonial.
Essa intensa vivência, como explicou posteriormente em textos autobiográficos e entrevistas, constituiu para o artista o momento decisivo da sua formação, refletindo-se na sua obra gráfica e escultórica e fazendo emergir nele uma vocação poética até então inassumida.
A experiência, sobretudo no demorado período em Angola, desdobrou-se em vários registos, permitindo-lhe apreender, tanto a dimensão antropológica das culturas indígenas, como os mecanismos e aspetos da administração colonial. Nas suas viagens Cruzeiro Seixas pode conhecer as cidades e o território de Angola, de Norte a Sul, mantendo contacto, quer com as populações, quer com os colonos, os poderes administrativos e figuras intelectuais locais; essas deslocações possibilitaram-lhe recolher imagens das pessoas e dos rituais, das edificações e dos monumentos; constituir um pequeno arquivo de documentos que ilustravam a situação colonial; e adquirir objetos de uso quotidiano ou ritualizado que lhe permitiram constituir uma extensa e rica coleção etnográfica.
Continuando a desenhar, a pintar e a conceber esculturas, em condições precárias e com recurso a materiais fortuitos, é neste período que Cruzeiro Seixas descobre a expressão poética, redigindo poemas, assinados como escritos em "Áfricas", em que se patenteia a dureza e a beleza da sua vivência. "África" tornou-se assim instância multíplice; por um lado, lugar de opressão e alienação, por outro, espaço de liberdade e civilização. Esta tensão expressou-se em duas exposições que organizou em Luanda, a primeira, em 1953, sob a égide de Aimé Cesaire, de desenhos e aguarelas, no átrio do cinema "Restauração", a segunda, em 1957, no "Palácio dos Fantasmas", um edifício oitocentista abandonado no centro da cidade, uma instalação de desenhos, aguarelas, esculturas e peças etnográficas, evocativa da situação colonial. Ambas as exposições provocaram acesa controvérsia entre figuras intelectuais locais, e levaram, no caso da de 1957, à expulsão de Angola de Alfredo Margarido, seu colaborador e cúmplice da exposição no "Palácio dos Fantasmas".
Integrado, a partir de 1960, nos quadros do Museu de Angola, Cruzeiro Seixas desenvolveu ali intensa atividade de museologia, renovando primeiro o espaço expositivo dedicado à arte moderna (por ter exposto numa mostra um quadro de Malangatana foi questionado pela polícia política), organizando depois, em 1964, uma exposição exemplar de máscaras e instrumentos musicais.
Não suportando o ambiente crescentemente belicista da resposta colonial às insurreições nacionalistas, Cruzeiro Seixas vendeu ao empresário Manuel Vinhas a sua coleção de arte etnográfica e regressou a Portugal em 1964. Todavia, "África" não desapareceu no seu pensamento, permaneceu como o lugar de referência da experiência da liberdade, tornando-se o lugar imaginário de grande parte dos poemas que irá redigir posteriormente. Posteriormente, exercendo a função de diretor artístico de galerias e de crítico, Cruzeiro Seixas procurou promover a receção na Europa de obras de jovens artistas africanos, como a exposição de Inácio Matsinhe, na SNBA, em 1973.
PROGRAMA
Quinta-feira, 6 de fevereiro
14:30
Apresentação do Seminário
Experiências d´África: Antes, Além, Aquém, Depois d´África
Jorge Croce Rivera (CHAIA - UÉvora)
15:30
Liberdade, Surrealismo e Erotismo
Coordenação de Vítor Gomes (CHAIA - UÉvora). Participação de Vítor Gomes, Jorge Croce Rivera e Antonio Fernando Cascais (ICNOVA - NOVA FCSH)
16:30
Surrealismo e Antropologia
Coordenação de José Rodrigues dos Santos (CIDEHUS-UÉvora). Participação de
José Rodrigues dos Santos e Jorge Croce Rivera
18:00
Fotografia e Experiência Colonial
Coordenação Afonso Dias Ramos (IHA - NOVA FCSH). Participação de Afonso Dias Ramos
e Marta Lança (BUALA, NOVA FCSH)
Sexta-feira, 7 de fevereiro
10:00
Artes Visuais, Literatura e Colonialismo
Coordenação de Teresa Matos Pereira (CIEBA-ESEL) e Francisco Soares (CITCEM - UP).
Participação de Teresa Matos Pereira, Francisco Soares, Rita Gomes (IHA - NOVA FCSH) e Jonuel Gonçalves (Escritor)
14:30
Recolhas, Coleções e Museus
Coordenação Jorge Croce Rivera (CHAIA - UÉvora)
15:30
Cruzeiro Seixas e a Arte Africana Contemporânea
Coordenação Ana Nolasco da Silva (UNIDCOM - IADE). Participação de Ana Nolasco da Silva,
Paula Nascimento (Curadora) e Ana Balona de Oliveira (IHA - NOVA FCSH)
17:30
Para uma Leitura Extímica de Cruzeiro Seixas
Coordenação de Rui Sousa (CLEPUL). Participação de Paulo Pires do Vale (DGArtes), Jorge Croce Rivera e Victor Correia (Escritor)
18:30
Conferência de encerramento
Raquel Henriques da Silva (IHA - NOVA FCSH)
Comissão Organizadora: Jorge Croce Rivera (CHAIA-Univ Évora); Vitor Gomes (CHAIA-Univ Évora);
Ana Nolasco da Silva (UNIDCOM-IADE-UE).
O IHC é financiado por fundos nacionais através da FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito dos projectos UIDB/04209/2020, UIDP/04209/2020 e LA/P/0132/2020.
TRANSMAT - Transnational materialities (1850-1930): reconstituting collections and connecting histories é financiado pela FCT (PTDC/FER-HFC/2793/2020).
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