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As origens intelectuais da revolução portuguesa - as causas dos livros, Expresso, 16 julho 2024
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As origens intelectuais da Revolução - as causas dos livros
História e Ciências Sociais
CICLO DE DEBATES | 30 out. '24 | 17h00 | Auditório | Entrada livre
A BNP associa-se ao cinquentenário do 25 de Abril, organizando o Ciclo de Debates “As Origens Intelectuais da Revolução Portuguesa – as causas dos livros".
No manifesto que leu perante mais de uma centena de oficiais em Cascais no dia 5 de março de 1974, Ernesto Melo Antunes defende que a «solução do problema ultramarino é política e não militar». A história é convocada para justificar esta ideia já expressa semanas antes por António de Spínola no seu Portugal e o futuro: "esta solução tem de ser encarada com realismo e coragem, pois pensamos que ela corresponde não só aos verdadeiros interesses do Povo Português como ao seu autêntico destino histórico e aos seus mais altos ideias de justiça e de paz". Sabemos que vários oficiais do Movimento das Forças Armadas eram leitores de obras portuguesas, mas também estrangeiras que rompiam com a visão da história e da sociedade imposta pelo Estado Novo. Tanto em Portugal como no estrangeiro, em condições por vezes precárias, cientistas sociais desbravaram campos de estudo quase virgens: a história dos séculos XIX e XX, o estudo da sociedade portuguesa, dos seus bloqueios e das suas desigualdades, um olhar não apologético sobre a expansão ultramarina.
As ciências sociais constituíam muitas vezes uma arma contra o regime ditatorial: perceber as estruturas da sociedade, inserir o Estado Novo numa cronologia mais larga, realçar as raízes económicas da invasão de Ceuta em 1415 e das conquistas posteriores permitia desconstruir a propaganda e o discurso autolegitimador impostos pela ditadura. As condições de produção destas obras eram adversas na maioria dos casos: os investigadores opostos à ditadura não tinham lugar na universidade onde, salvo raras exceções, o espírito crítico não imperava. Vários pesquisadores tiveram de sair do país para fugir persecuções e/ou para continuar os estudos e investigar. Para muitos exilados, continuar a trabalhar sobre Portugal era uma forma de prolongar o combate político e de manter uma ligação com um país no qual não podiam viver. Se podiam conviver com historiadores, sociólogos, antropólogos, filósofos, etc., de renome (Fernand Braudel, Lucien Febvre, Pierre Vilar, Marcel Bataillon, Stuart Woolf, John Campbell, Henri Lefebvre por exemplo) e aceder a bibliotecas e arquivos melhor organizados que em Portugal, investigar no exílio implicava muitas vezes não ter acesso à documentação apenas existente em Portugal. Publicar livros também era uma prova devido aos constrangimentos impostos pela ditadura (indo até à proibição da venda de livros). No entanto algumas destas obras tiveram uma circulação importante (com tiragens ultrapassando dezenas de milhares de exemplares), saindo dum âmbito meramente académico.
Que inovações historiográficas trouxeram António Borges Coelho, António Henrique de Oliveira Marques, Miriam Halpern Pereira, Vitorino Magalhães Godinho no contexto da ditadura, das guerras coloniais, mas também da perda de influência do Partido comunista português no campo intelectual português? Como pensaram a história de Portugal num período de crescimento acelerado da industrialização, de êxodo rural e de abertura do país ao estrangeiro (por via da emigração, da expansão do turismo e da abertura ao capital estrangeiro)? Como os sociólogos e os antropólogos abordaram uma sociedade que conhecia profundas mudanças em poucos anos? Que receção tiveram as suas obras nas vésperas do 25 de abril de 1974?
Moderador: Victor Pereira
Convidados: João Leal, Jorge Pedreira, Maria de Lurdes Rosa, Miriam Halpern Pereira
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