A Ideia, então «órgão anarquista específico de expressão portuguesa», foi fundada por João Freire em Paris em abril de 1974. Era, de certa maneira, uma herança do espírito de "Maio de 68" que se queria fazer alargar, também em língua portuguesa. Assim, esteve no cerne da realização, em julho de 1974, de um grande comício anarquista internacional, que encheu a 'Voz do Operário' de Lisboa. A partir de 1975 a revista prosseguiu a sua existência já em Portugal, procurando compatibilizar a herança dos antigos anarquistas sindicalistas do tempo da República e da Ditadura que animavam os jornais A Batalha ou Voz Anarquista com as atitudes contestatárias da juventude escolarizada de então.
Na década de 80, considerando estabilizada a democracia em Portugal, A Ideia evoluiu no essencial das suas mensagens, estimulando a legitimação dos então chamados "novos movimentos sociais" (sobretudo o feminismo, a ecologia e o pacifismo) ao mesmo tempo que, contando com novos colaboradores como Miguel Serras Pereira e Vasco Rosa, deixou o anterior carácter gráfico artesanal-militante e assumiu-se efetivamente como uma «revista de cultura e pensamento anarquista», alargando muito o leque de autores que nela participavam, incluindo na área pictórica. Paralelamente, o seu grupo editor, que já em 1978 organizara uma ‘Semana de Presença Libertária' com participação estrangeira, assegurou a concretização na Biblioteca Nacional de Portugal do projeto de Emídio Santana de organização de um Arquivo Histórico-Social (hoje N/61 do ACPC) e a correspondente realização em 1987 da exposição ‘Um século de anarquismo em Portugal'; além, no mesmo ano, de um Colóquio Internacional sob o tema ‘Tecnologia e Liberdade'.
Depois de uma década muita discreta, a revista ressurge com o século XXI como «revista libertária», de novo pela mão de João Freire; e foram elementos seus que entre 2010 e 2012 desenvolveram o projeto ‘Movimento social crítico e alternativo' (MOSCA) financiado pela FCT. Em 2013 assumiu a sua direção o já antigo colaborador António Cândido Franco que lhe imprimiu uma dinâmica muito nova, como «revista de cultura libertária» e com o seu conteúdo a corresponder a tal programa editorial, com especial destaque para os temas e autores surrealistas, tanto na escrita como nas imagens, mas sem minimamente renegar a sua trajetória anterior.
ATIVIDADES COMPLEMENTARES
Estão previstas iniciativas presenciais em ligação com a exposição para os dias 15 de outubro, 19 de novembro, e 3 e 14 de dezembro, data de encerramento da exposição:
Heranças de Maio de 68
DEBATE | 15 out. '24 | 17h00 | Auditório | Entrada livre
Avec ma gueule de métec, de juif errant, de pâtre grec et les cheveux aux quatre vents…, Georges Moustaki
Com Manuel Villaverde Cabral, José Rodrigues dos Santos, Fernando Pereira Marques, José Rebelo e Fernando Medeiros (que também modera a sessão).
Luz Negra (2024)
FILME | 19 nov. '24 | 17h30 | Sala de projeção | Entrada livre
Visionamento do filme seguido de debate com a realizadora Mara Rosa. No filme são entrevistados diversos membros do grupo editor da revista A Ideia.
Memória Subversiva (1989)
FILME | 3 dez. ´24 | 17h30 | Sala de projeção | Entrada livre
Visionamento do filme seguido de debate com o realizador José Tavares. No filme são entrevistados alguns antigos militantes anarco-sindicalistas portugueses.
A Ideia - Revista de Cultura Libertária, n.º 104/105/106
APRESENTAÇÃO | 14 dez. '24 | 15h30-17h30 | Auditório | Entrada livre
Apresentação do último número da revista A Ideia, assinalando o encerramento da exposição A Ideia - 50 Anos. Revista de cultura libertária. Com intervenções de diversos oradores sob a responsabilidade do atual diretor da revista, António Cândido Franco.