Eduardo Lourenço e o Espírito da Heterodoxia: abordagens filosóficas, literárias e artísticas
COLÓQUIO | 23 out. (FL-ULisboa, Anfiteatro III) e 24 out. '23 (BNP, Auditório) | 15h00-19h00 | Entrada livre
Durante décadas, Eduardo Lourenço criou uma obra complexa com muitas bifurcações por campos e caminhos labirínticos de um pensamento dinâmico e inovador, onde Portugal e a problemática da cultura portuguesa têm grande visibilidade, sempre inscrita no horizonte global do pensamento europeu e da situação contemporânea.
São múltiplas as imagens, símbolos e conceitos que acompanham, codificam e sublinham o devir deste pensamento. Um desses conceitos é o de heterodoxia, o qual intitula o primeiro livro de Eduardo Lourenço, de índole predominantemente filosófica, publicado em 1949. Após esta primeira abordagem, o espírito da heterodoxia não mais deixou de acompanhar Eduardo Lourenço, inspirando-lhe trabalhos capazes de atrair tanto especialistas como de chegar a um público mais amplo.
Eduardo Lourenço desenvolveu, assim, a sua visão do mundo, da sociedade e das artes, onde se destaca a reflexão sobre a poesia portuguesa, em autores como Camões, Antero e Pessoa - entre muitos outros -, onde o estabelecido, o pré-concebido e o ortodoxo são questionados. No prólogo à sua primeira obra, Heterodoxia I, vê o conceito assumido como título inaugurador do seu projeto de pensamento como simbolizado na serpente Migdar (Midgard), que devora a própria cauda, vislumbrando-a como a unidade dialética dos opostos: vida-morte, bem-mal, senhor-servo, virtude-vício, palavra-silêncio. Na sua leitura, a heterodoxia é a "paixão circular da vida por si mesma" no movimento constante de morder e ser mordida, que não se reduz à cabeça que devora e à cauda que é devorada, escapando a todas as ficções da ortodoxia - a certeza de existir um só caminho - e do niilismo, a convicção inversa de não haver caminhos. Heterodoxos são assim "os eternos descobridores dum terceiro caminho", aqueles que assumem a liberdade latente em todos os humanos e cultivam "a humildade do espírito, o respeito simples em face da divindade inesgotável do verdadeiro".
O presente colóquio assume o legado deste desafio pensando a partir de Eduardo Lourenço e abordando e equacionando a imensa variedade temática da sua obra em função da presença que nela exerce a força orientadora do Espírito da Heterodoxia.
PROGRAMA
23 out. '23 | Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Anfiteatro III
15h00-15h20 - Abertura
Paulo Borges, Mário Vítor Bastos, Nuno Ribeiro
15h20-16h00
A Serpente Midgard e o Espírito da Heterodoxia em Eduardo Lourenço | Paulo Borges
16h00-16h40
Eduardo Lourenço, Maria Helena Vieira da Silva e a heterodoxia na pintura | Mário Vítor Bastos
16h40-17h00 - Coffee-Break
17h00-17h40
Eduardo Lourenço & Fernando Pessoa: O eu como ficção e a questão da heteronímia | Nuno Ribeiro
17h40-18h20
EDUARDO LOURENÇO: PENSADOR DAS RUTURAS: rutura filosófica (contra o racionalismo de António Sérgio); rutura literária (contra o segundo modernismo e o neorrealismo); rutura cultural (contra o saudosismo): a afirmação de um novo Portugal europeu | Miguel Real
18h20-19h00
Destinação e despossessão | Silvina Rodrigues Lopes
24 out '23 | Biblioteca Nacional de Portugal, Auditório
15h00-15h40
Heterodoxia e Modernidade | Carlos Leone
15h40-16h20
Eduardo Lourenço: a heterodoxia como medida do pensar | Bruno Barreiros & Marta Carvalho
16h20-16h40 - Coffee-Break
16h40-17h20
Interpretações do sebastianismo em Eduardo Lourenço: o mito entre Portugal e o Brasil | Romana Valente Pinho
17h20-18h00
Do luso-tropicalismo como uma heterodoxia dos nossos tempos (que Eduardo Lourenço não compreendeu) a uma visão heterodoxa sobre o alegado "atraso" português | Renato Epifânio
18h00-18h40
Morte, tempo e escrita ensaística em Eduardo Lourenço | Douglas Attila Marcelino
Organizadores:
Paulo Borges é Professor no Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e investigador do Centro de Filosofia da mesma Universidade. Professor de Medicina e Meditação na Faculdade de Medicina da mesma Universidade. Coordenador do Seminário Permanente Vita Contemplativa no Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa. Autor e organizador de 65 livros de ensaio filosófico, aforismos, poesia, ficção e teatro.
Mário Vítor Bastos é Professor Auxiliar do Departamento de Estudos Anglísticos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e Investigador Integrado no Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas onde coordena o Grupo de Investigação de Literaturas e Culturas Europeias. Tem estudado e publicado sobre temas portugueses e anglófonos ligados à problemática da modernidade na poesia e artes contemporâneas.
Nuno Ribeiro - pós-doutorando do IELT (NOVA - FCSH), onde realizada uma pesquisa financiada pela FCT, ao abrigo do FSE (SFRH/BPD/121514/2016). É autor de mais de 20 edições sobre a obra de Fernando Pessoa publicadas na Europa, no Brasil e nos Estados Unidos. Publicou os seguintes ensaios pessoanos: Fernando Pessoa e Nietzsche: O pensamento da pluralidade (Verbo, 2011); Fernando Pessoa e a Filosofia: Um estudo a partir do espólio (Apenas Livros, 2016); A Filosofia como Poetar: Escritos sobre Wittgenstein e Fernando Pessoa (Apenas Livros, 2016); Fernando Pessoa entre Leituras e Poéticas (Húmus, 2021).
Esta atividade foi financiada por Fundos Nacionais através da FCT — Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto UIDB/00077/2020