Apesar de Ruy Coelho ser maioritariamente conhecido como compositor de obras para orquestra: como sinfonias, óperas e bailados,P o repertório para piano de que é autor assume especial importância na sua produção global, tanto em quantidade como qualidade, não fosse o piano o instrumento da sua formação durante os anos como estudante no Conservatório Nacional, onde teve Alexandre Rey Colaço como professor.
Atualmente, o parco reconhecimento de Ruy Coelho como compositor para piano deve-se, principalmente, à escassa edição musical das suas obras para este instrumento e a estas estarem hoje fora do mercado. No entanto, ao longo de todo o século XX, as suas obras foram interpretadas por vários pianistas portugueses e estrangeiros, destacando-se Lourenço Varella Cid, Nina Marques Pereira, Nella Maissa, José Carlos Picoto, Aline van Barentzen e Fernando Laires, entre outros. Fernando Laires e a sua esposa, Nelita True, também pianista, foram igualmente responsáveis pelas primeiras gravações comerciais da Sonatina e do Álbum para a Juventude Portugueza, respetivamente, para a antologia de música portuguesa da Educo Records, com direção artística de Fernando Laires, que foi gravada na década de 1970. Estas gravações, tal como as partituras publicadas, estão hoje fora do mercado.
O espólio de Ruy Coelho, doado em 2011 à Biblioteca Nacional de Portugal, integra variados exemplos de obras para piano solo, música de câmara com piano e piano concertante. As primeiras edições críticas da obra para piano de Ruy Coelho estão a ser publicadas pelo MPMP Património Musical Vivo e incluem quatro das cinco obras apresentadas neste CD, nomeadamente Sonatina (1932), Promenades enfantines à Paris (1935), Três Prelúdios (1962) e Três Prelúdios Peninsulares (s. d.). A escolha destas obras, além de ter como critério de seleção as edições críticas citadas, deve-se também ao facto de serem exemplos bastante representativos da música para piano do compositor: a Sonatina enquanto única obra para piano solo com estrutura maior, composta por três andamentos; Três Prelúdios e Três Prelúdios Peninsulares como conjuntos de peças que incluem exemplos significativos da escrita de Ruy Coelho, como a utilização de texturas orquestrais, temas reminiscentes da música tradicional portuguesa e uma forma rapsódica; Promenades enfantines à Paris enquanto ciclo de peças com títulos descritivos e com clara influência da música francesa do início do século XX, nomeadamente de Debussy. Optou-se por incluir também o Álbum para a Juventude Portugueza (1933): não só por ser a obra para piano mais conhecida do compositor, mas também pelo seu carácter pedagógico adjacente e por apresentar, ao longo das 15 peças que a constituem, uma multiplicidade de estilos que permitem ter uma maior visão global da escrita para piano de Ruy Coelho.
Programa
Ruy Coelho (1889-1986)
Bernardo Santos, piano
Três Prelúdios (1962)
Deciso (Allegro)
Vivo
Lento
Promenades Enfantines à Paris (1935)
Première Promenade à pied – Le Matin: au Jardin du Luxembourg
Deuxième Promenade à pied – Après midi: A travers le Bois de Boulogne
Promenade en Chemin de fer – A Versailles
Promenade en bateau – Au coucher du soleil: Au Lac du Bois de Boulogne
Promenade en ascenseur – A la Tour Eiffel
Promenade… au lit – L’enfant s’endort
Álbum para a Juventude Portugueza (1933)
Canto de Paz
Coral Alentejano
Cantiga Popular
Scena d’Amôr (Carochinha e João Ratão)
Dança do Ribatejo (Fandango)
Marcha dos Camponeses
Dança do Norte
Valsa Rústica
Barcarola
Toccata
À Noitinha
Canção dos Ceifeiros
Prelúdio
Noturno
Estudo
Sonatina (1932)
Allegro
Andante: Expressivo
Final: Allegro Vivo
Três Prelúdios Peninsulares (s.d.)
Allegro
Andante
Molto vivo