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Coleção Biblioteca da Censura
APRESENTAÇÃO | 4 maio '22 | 18H00 | Auditório | Entrada livre
A coleção “Biblioteca da Censura”, iniciativa do Público e de A Bela e o Monstro, associa-se à BNP no âmbito da exposição “Obras proibidas e censuradas no Estado Novo” para publicar 25 exemplares originais proibidos ou cortados pela censura.
Pela primeira vez, obras originalmente cortadas pelos censores do Estado Novo são reimpressas tal como a ditadura as deixou: marcadas, carimbadas e encarceradas em gabinetes burocráticos. Durante quarenta anos, os censores salazaristas e marcelistas redigiram mais de 10.000 relatórios de leitura a livros de autores portugueses, estrangeiros e em tradução para língua portuguesa.
Esta nova coleção de livros fac-similados resulta de uma seleção de exemplares recuperados após o assalto da população, em 26 de abril de 1974, à última sede dos Serviços de Censura, em Lisboa, e que estão hoje depositados na Biblioteca Nacional de Portugal. A Biblioteca dos Serviços de Censura era o próprio arquivo dos censores, que a usavam como referência, no caso de haver reclamações, pedidos de reedição ou tradução de livros importados. Tratava-se, portanto, de uma biblioteca de consulta privada e secreta, compilada precisamente para que os livros temidos pelo regime não fossem lidos. No fundo, para que ninguém soubesse que alguma vez chegaram sequer a existir. Foi, assim, uma “antibiblioteca”.
Hoje podemos ler os relatórios que os censores produziram internamente. As suas análises revelam um desvelar de adjetivos impiedosos. Os seus critérios de exame moral, político e social baseavam-se na ideologia do regime, cuja doutrina era corporativista, nacionalista, anticomunista, colonialista, imperialista, católica, patriarcal e heteronormativa. Assim, três dos grandes focos de obsessão dos censores foram a “imoralidade”, o “comunismo” e a “pornografia”. Descreviam os livros “inconvenientes” como sendo demasiado realistas, tendo “aspectos comunizantes”, sobretudo nas décadas de 1940 e 50 em que fustigaram a literatura neorrealista. A par destes tópicos, as mulheres foram também perseguidas e silenciadas. O intuito do regime era impedir os direitos das mulheres e a sua emancipação social e sexual.
A coleção “Biblioteca da Censura” apresenta 25 volumes que o regime quis ocultar e que guardou secretamente para que ninguém os lesse. É, portanto, um gesto democrático fazer reemergir o que a ditadura submergiu, com as rasuras que deixou e os traumas que encerrou. Restituir ao público o que o público não leu é um ato de “descensura”, de devolução dos livros que a ditadura suprimiu da vida intelectual e cultural durante quase meio século. Serão dois anos, mês a mês, de libertação.
Álvaro Seiça
Centro de Literatura Portuguesa, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
Este projeto beneficiou de financiamento do Programa-Quadro de Investigação e Inovação Horizonte 2020 da União Europeia ao abrigo da convenção de subvenção Marie Skłodowska-Curie n.º 793147, ARTDEL (https://artdel.net).
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