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Horário
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Mariana Alcoforado: 350 anos de paixão e prélio
DESTAQUE | 4 - 30 nov. '19 | Sala de Referência | Entrada livre
As obscuras cartas enviadas ao seu amante fugitivo por uma clarissa pacense, num crescendo de espera, aflição e abandono que retempera os prístinos motivos da poética galaico-duriense com uma nova hipersensibilidade barroca, alcançaram desde a sua publicação um improvável sucesso por toda a Europa, instigando uma contenda literária que caminha já para o seu quarto século.
Sobre estes pungentes documentos da desesperança tudo tem sido questionado: a sua autoria e sexo, a nacionalidade e a língua original, a genuinidade ou artifício da sua emoção, a veracidade ou ficcionalidade dos contextos biográficos evocados. Investigadores, polemistas, críticos literários e devotos marianistas terçaram ponderosos argumentos a favor de cada uma das hipóteses aventadas, negadas, reformuladas, retomadas, recombinadas, a que se vem juntando um crescente corpus de recriações que ameaça relegar o próprio texto, transmudado em pretexto, para um indevido segundo plano. Apesar dessa fértil receção, ou por virtude dela, a paixão de Mariana permanece no centro da galeria dos mitos amorosos nacionais, paralela à tragédia de Pedro e Inês.
Três séculos e meio depois, é chegado o momento de resgatar o texto, restabelecer a sua autoria e celebrar o inextinguível fascínio dos seus temas: a volição e o desejo, expressos na prática milenar do orante; a introspeção penitente, adestrada na rigorosa disciplina da confissão, e o contemptus mundi, raiz e pilar da condição claustral. As tribulações de Mariana alcançam assim a plenitude das suas quatro leituras canónicas: a histórica (os desditosos amores conventuais em Beja), a alegórica (a solidão existencial de todo o indivíduo), a moral (o desespero patético dos amantes face à impossibilidade da união total) e a anagógica (o lamento da alma que, abandonada no exílio terreno, anseia pelo seu retorno ao Criador).
Com esta pequena mostra bibliográfica, a Biblioteca Nacional de Portugal associa-se às comemorações em Beja e em Lisboa dos 350 anos da edição princeps das Lettres portugaises traduites en françois (Paris: chez Claude Barbin, 1669).
Filipe Delfim Santos
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