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Horário
2.ª - 6.ª 09h30 - 19h30
sáb. 09h30 - 17h30
Visitas guiadas por Rafael Dias Campos 15 fev. | 11h00 15 mar. | 16h00 27 mar. | 11h00
Entrada livre /
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Folha de sala


Apoio: 
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Pela saúde, aviso-te!
Os avisos ao público no Portugal moderno (ca 1770 - ca 1820)
MOSTRA | 12 jan. - 31 mar. '17 | Sala de Referência | Entrada Livre
Escritos na transição do século XVIII para o XIX, os Avisos ao público foram das mais marcantes, embora actualmente pouco conhecidas, obras de cunho popular na medicina portuguesa. Influenciados pelos ideais do Iluminismo, médicos formados pela Universidade de Coimbra e por diferentes universidades estrangeiras escreveram pequenos livretos com o objectivo de educar a população acerca das melhores práticas médicas. Na concepção destes médicos, fazia-se um excelente trabalho, eram as Luzes a chegar também às populações pobres e semianalfabetas.
Estas obras foram quase todas publicadas em Lisboa, mas seus autores eram das mais diferentes regiões, dentro e fora dos domínios portugueses. Destacaram-se nesse segmento médicos como Manuel Henriques de Paiva, que não apenas traduziu Avisos, como escreveu e publicou alguns. Outros, como André Lopes de Castro, viram neste público leitor uma oportunidade de ganhar mais dinheiro e publicaram Avisos que eram muito mais propagandas de seus remédios do que ensinamentos para as pessoas com menor acesso aos agentes de saúde oficiais: os próprios médicos.
Numa altura em que a carência de médicos era significativa, estes textos traziam consigo a idealização de que alguma melhoria poderia ser feita pela saúde das gentes do interior se elas soubessem como cuidar de si. Também não foram poucos os Avisos que pronunciavam curas novas, algumas extraordinárias inclusive. Naquela altura, por exemplo, os banhos de mar não faziam parte dos divertimentos de Verão e é então que obras como o Aviso acerca dos banhos do mar advertiam para as vantagens de seu uso, desde que regrado. Com soluções as mais diversas, as então ditas “mortes aparentes” também ocuparam muitas páginas.
Neste sentido, crises demográficas como a da cólera no século XIX não passariam desapercebidas. Vários foram os médicos que procuraram apresentar soluções magníficas para a doença que tantas vidas ceifava. Mas não só, pois não faltaram críticas aos métodos de outros médicos e, principalmente, dos curandeiros que, segundo dizia-se, eram os principais responsáveis pela morte de tantas pessoas. Muitas destas críticas dirigidas a outros médicos deviam-se às soluções apresentadas nos Avisos, pois muitos destes autores procuraram divulgar seus métodos de cura, aconselhar tratamentos (nem sempre ortodoxos) que eles próprios aplicavam. A ideia final, claro, era angariar apoio da coroa e obter lucros pela venda das obras e por meio da divulgação dos tratamentos médicos, pois, como afirmou-se em um Aviso “se não se cura, ao menos modifica consideravelmente o seu mal”.
Com o passar dos anos, estes Avisos chegaram a um estado de consagração editorial tal que o eixo central destes textos (a medicina, os médicos e a ideia Iluminista de instrução pública) foi sendo abandonado por uma concepção totalmente conectada com os novos tempos. Foi então que os Avisos passaram a falar de outras questões: as respostas controversas de um caluniado que dizia ser indiferente às calúnias que o tinham injuriado, ou mesmo contra as “enfermidades maçónicas”.
Quem visitar a mostra poderá desfrutar de uma medicina perdida no tempo, mas não esquecida por nós.
Rafael Dias Campos Comissário
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