Biblioteca Nacional de Portugal
Serviço de Actividades Culturais
Campo Grande, 83
1749-081 Lisboa
Portugal
Informações
Serviço de Relações Públicas Tel. 21 798 21 68
Fax 21 798 21 38
Este endereço de e-mail está protegido de spam bots, pelo que necessita do Javascript activado para o visualizar
Horário
2.ª - 6.ª 09h30 - 19h30
sáb. 09h30 - 17h30
Horário de Verão (15 jul. - 14 set.)
2.ª - 6.ª 09h30 - 17h30
Sáb: serviços encerrados
Folha de sala

|
Ferreira de Castro 100 Anos Vida Literária
MOSTRA | 8 jun. - 30 ago. '16 | Sala de Referência | Entrada Livre
José Maria Ferreira de Castro nasceu a 24 de maio de 1898, na aldeia de Salgueiros, freguesia de Ossela (Oliveira de Azeméis), filho de José Eustáquio Ferreira de Castro e de Maria Rosa Soares de Castro, caseiros. Da meninice ficarão as marcas de um íntimo contacto com a verdejante natureza envolvente. Originário duma família camponesa humilde, emigra para o Brasil, sozinho, apenas com doze anos. Enviado para um seringal da Amazónia, onde trabalha até aos dezasseis – vivência fundamental para a sua formação –, vai para Belém do Pará, onde, a par de trabalhos temporários e mal remunerados se auto-educa na Biblioteca Pública da cidade. Aí edita, em 1916, os dois primeiros livros, um dos quais, Criminoso por Ambição, fora escrito ainda em plena floresta amazónica, em 1912-1913. Ingressa no jornalismo, com sucesso, até ao regresso a Portugal, em 1919. Na década seguinte trabalha arduamente como free lancer na imprensa, publicando cerca de uma dezena de títulos que virá a eliminar da sua tábua bibliográfica.
É a partir de 1928, com Emigrantes, que Castro se encontrará como autor, ao relatar a epopeia dum arquétipo, duma «personagem-multidão» compelida à expatriação por um modelo de organização social de desigualdade e, não menos importante, por uma estrutura cultural que privilegia a posse – neste caso fundiária – como forma de afirmação individual. Emigrantes, com as suas bem marcadas tensões sociais e ideológicas bem vincadas, lança assim os fundamentos da novelística proletária e de extração social que, uma década mais tarde, será designada por neorealismo. Simultaneamente, inscreve no romance português novecentista uma corrente marcadamente libertária (ou anarquista) sem paralelo nos autores seus iguais, nomes cimeiros da narrativa contemporânea, atomizada pelo casticismo do Aquilino Ribeiro de Andam Faunos pelos Bosques, o psicologismo do José Régio de Jogo da Cabra Cega, o cosmopolitismo mundano do Joaquim Paço d’Arcos de Ana Paula, o realismo socialista do Alves Redol de Gaibéus ou o realismo integral católico do Francisco Costa de Cárcere Invisível. Na sequência de Emigrantes, Castro publica A Selva (1930), que não só confirma o posicionamento ideológico do autor como a via romanesca iniciada no livro anterior. Obra densa em que o escritor apôs a sua verdade interior, é reconhecidamente um dos grandes romances portugueses do século XX, tendo internacionalizado o seu autor como jamais sucedera a qualquer romancista português, em sua vida ou mesmo post mortem: em 1973, a Unesco divulga que A Selva estava entre os dez romances mais lidos em todo o mundo, mercê das traduções nos principais idiomas da cultura ocidental.
As narrativas seguintes mostram os recursos de um escritor que se renova a cada título e sedimentam o lugar de Ferreira de Castro como autor referencial do seu tempo, nos aspetos literário, cultural e sociológico: Eternidade (1933), Terra Fria (1934), A Tempestade (1940), A Lã e a Neve (1947), A Curva da Estrada (1950), A Missão (1954) e O Instinto Supremo (1968). Por razões extraliterárias, que se prendem com a Censura instituída pelo Estado Novo, dedicou-se também à literatura de viagens, com Pequenos Mundos e Velhas Civilizações (1937-38) e A Volta ao Mundo (1940-44), bem como a uma longa digressão estética, da Pré-História à contemporaneidade, com As Maravilhas Artísticas do Mundo (1959-63). Deixou inéditos Os Fragmentos (1974) – volume que além de evocações memorialísticas inclui o romance O Intervalo – e a peça Sim, Uma Dúvida Basta (1994). A difusão da sua obra além-fronteiras teve o correspondente reconhecimento com a candidatura ao Prémio Nobel de Literatura, em 1951 e 1968, sempre proposto por entidades estrangeiras. Ao Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências (1934) sucederam-se o da Academia das Belas Artes de Paris (1963), o «Águia de Ouro» do Festival do Livro de Nice (1970) e o da União Latina (1971), conjuntamente com Jorge Amado e Eugenio Montale.
Faleceu em 29 de junho de 1974, e está enterrado na Serra de Sintra, na vila à qual doou o seu espólio documental, a partir do qual se instituiu o Museu Ferreira de Castro. Também Ossela o homenageia, com a sua Casa-Museu.
Ricardo António Alves Centro de Estudos Ferreira de Castro
|