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Folha de sala

 

 

Roteiro Bibliográfico e Documental


Ramalho Ortigão. Um publicista em fim de século

MOSTRA | 25 set. - 31 dez. '15 | Sala de Referência | Entrada livre

José Duarte Ramalho Ortigão (1836-1915) foi uma expressão da multifacetada figura do publicista finissecular, porém com uma atividade de sincero compromisso crítico com «o país e a sociedade portuguesa» de que As Farpas foram a obra de referência de quase uma vida.

Sobre Sampaio Bruno ou França Borges, por exemplo, figuras típicas que com ele partilharam uma posição de exceção ética – quando o estatuto simbólico do publicista declinara, no fim do século XIX, no oportunismo e na promiscuidade com os interesses das elites políticas e económicas −, Ramalho Ortigão prefigura, como poucos, o longo percurso do intelectual de oitocentos. A longevidade de vida o permitiu.

O ponto de partida romântico teve lugar logo na educação doméstica, passada numa quinta nortenha aos cuidados de uma avó, a que se seguiu a tentativa de cursar Direito em Coimbra, de que veio a desistir; regressou ao Porto para dar aulas de línguas no colégio de Nª Srª da Lapa, de que o pai era diretor, sendo professor de Eça de Queirós; enfim, a carreira de homem de letras, num estatuto que nunca perdeu por completo, misto de diletante viageiro, cronista do que vê, do que lê, por onde passa. Esta fase terminou com um alinhamento ao lado de Feliciano de Castilho, na querela literária com os jovens partidários do Bom Senso e Bom Gosto, chegando a bater-se com Antero de Quental de florete em riste.

Do Porto onde nasceu, partiu para o meio intelectual de Lisboa e acabou por juntar-se aos jovens literatos que agora aqui se reuniam, em Cenáculo e em conferências de fervor republicano e socialista; com Eça, amigo de toda a vida, resolveu «acordar a berros» o torpor citadino da sociedade regeneradora, num ciclo de folhetins intitulado O Mistério da Estrada de Sintra e numa publicação de crónicas periódicas designadas por Farpas. Publicista compulsivo, não mais parou de escrever em jornais e revistas, provido, como dele disse o grande amigo, «dos elementos essenciais da filosofia, da economia, da moral, da política, da história, das belas artes, da ciência, da indústria.»

As Farpas, por si continuadas (já sem Eça, que partira para a vida diplomática), valeram-lhe reputação no Rio de Janeiro, tornando-se correspondente da Gazeta de Notícias local, durante mais de trinta anos, onde deixou publicados mais de 500 artigos. Os proventos da escrita não eram parcos (as crónicas para o Álbum das Glórias, de Bordalo Pinheiro, podiam render-lhe 30 mil reis num mês) e acumulou a atividade das letras com o cargo de secretário da Academia Real das Ciências, depois ainda o de bibliotecário da Real Biblioteca da Ajuda, de que foi demitido com o advento da República.

Este publicista em fim de século viu aliás, então, que uma época terminava. Monárquico convicto, mesmo áulico (como se tornaram quase todos os jovens a que, embora dez anos mais velho, Ortigão se juntara na década de 1870), e foi um Vencido da Vida em 1900, mas nunca viveu nem agiu no favor político ou do ambiente medíocre.

Cabeçalho: pormenor de «Depois d'um domingo em Clifton», Ramalho Ortigão, «A Ilustração», Paris, 20 de setembro de 1885
 
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