Nascido em Tremês (Santarém) a 8 de julho de 1925, Joaquim Veríssimo Serrão, cuja vasta obra de investigação não está desligada do entendimento da História como encruzilhada do saber humano, assume-se como uma das figuras marcantes da historiografia e da vida académica portuguesas da segunda metade do século XX.
Animado pelo amor ao ofício de historiador e orientado pela procura da inteligibilidade dos fenómenos históricos – que na sua obra envolve aturado estudo e conhecimento das fontes documentais – dedicou especial destaque à presença dos humanistas portugueses na cultura europeia de Quinhentos, à história local, com particular atenção por Santarém, à formação do Brasil, assim como à historiologia portuguesa e às figuras axiais da vida política portuguesa nas últimas décadas do Antigo Regime e início do Liberalismo.
Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas pela Universidade de Coimbra, em 1948, já antes dera à estampa um texto revelador da sua competência –
Ensaio histórico sobre o significado da tomada de Santarém aos mouros em 1147 (1947) – a que aliava precoces dotes de conferencista –
A mundividência na poesia de Guilherme de Azevedo (1948) – traço que jamais abandonaria.
Em 1950, partiu para Toulouse, onde ocupou as funções de leitor de Cultura Portuguesa da Universidade local, o que lhe permitiu um estreito contacto com eminentes lusitanistas franceses: Paul Teyssier, León Bourdon e Jean Roche. Data desse período a obra:
A infanta D. Maria (1521-1570) e a sua fortuna no Sul da França (1953), bem como trabalhos sobre António de Gouveia, Francisco Sanches, Diogo de Teive, Manuel Álvares e outros letrados portugueses que haviam frequentado ou ensinado naquela Universidade. De regresso a Portugal, defendeu tese de doutoramento em Coimbra –
O reinado de D. António Prior do Crato: 1580-88 (1957) – e iniciou docência na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

A década de 60 foi particularmente profícua, dividindo-se o historiador entre o ensino e a investigação/publicação de trabalhos sobre humanistas portugueses em Salamanca, Montpellier e Toulouse, as relações externas entre Portugal e as Cortes europeias no século XVI, o Brasil colonial, e a crise dinástica de finais do século XVI. Na
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira e no
Dicionário da História de Portugal, dirigido por Joel Serrão, deixou patente, ao longo desses anos, o seu labor em dezenas de entradas.
Entre 1967 e 1972, suspendeu a atividade docente, por ter sido nomeado diretor do Centro Cultural Português, em Paris, da Fundação Calouste Gulbenkian, funções nas quais impulsionou a difusão dos estudos portugueses, como o atesta a vasta e importante produção editorial, em especial os
Arquivos do Centro Cultural Português.
De regresso a Portugal, ocupa a cátedra de História na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo sido nomeado para o cargo de reitor da Universidade de Lisboa (1973-1974), cujo exercício interrompe pela mudança de regime.
Para além de um crescente interesse por figuras-síntese que corporizam períodos de mudança (Marquês de Pombal e Alexandre Herculano), iniciou, em finais da década de 1970, uma das suas obras emblemáticas, a
História de Portugal, que foi ganhando forma editorial até à conclusão em 2011 (volume XIX), a qual oferece uma vasta perspetiva da vida nacional, das origens à III República. Homem de convicções, Veríssimo Serrão deu também testemunho de amizade e lealdade a Marcelo Caetano, como atestam as
Confidências no exílio (1985) e a
Correspondência com Marcello Caetano – 1974-1980 (1994).
Entre 1975 e 2006, presidiu à Academia Portuguesa da História. É sócio de mérito, membro honorário e correspondente de inúmeras sociedades científicas, portuguesas e estrangeiras, tendo recebido as mais altas distinções, condecorações e prémios, bem como diversos doutoramentos
honoris causa por universidades francesas, espanholas e portuguesas.