
O significado de termos como Europa, Japão e China, assim como a sua respetiva localização geográfica, não eram de forma alguma evidentes nos séculos XVI e XVII. Foi este o período em que intelectuais, mercadores, cartógrafos, missionários cristãos, monges budistas e letrados confucionistas, de origem europeia, japonesa e chinesa, tentaram pela primeira vez associar estes vocábulos de forma inteligível, tanto do ponto de vista geográfico como civilizacional. O Japão, muito particularmente, não esteve incluído na imagem europeia do mundo até meados do século XVI, nem como espaço, nem como cultura.
A chegada de um junco chinês por volta de 1542-1543 à ilha de Tanegashina, no sul de Kyūshū, com alguns portugueses a bordo, levou à fixação deste povo em território nipónico. Alguns anos mais tarde, no verão de 1549, o jesuíta Francisco Xavier chegava noutro junco chinês a solo japonês, iniciando assim a missão cristã no Japão. A partir deste momento, estes estrangeiros do Sul da Europa (portugueses, espanhóis e italianos) foram denominados de
nanban-jin, ou pessoas (
jin) bárbaras (
ban) [vindas] do sul (
nan), seguindo a tradição chinesa de considerar todos os estrangeiros como bárbaros. O termo
nanban acabou por se aplicar a diferentes contextos ao longo dos séculos:
nanban bijutsu (arte
nanban),
nanban bunka (cultura
nanban),
nanban bungaku (literatura
nanban),
nanban bōeki (comércio
nanban).
![Carta do padre Luís Fróis para o irmão Jerónimo Vaz sobre o quotidiano da Missão Jesuíta no Japão, 1586 [http://purl.pt/26134]](/images/stories/agenda/2015/japao_fontes2.jpg)
Através de um valioso conjunto de documentos que inclui mapas, vistas de cidades, cartas de padres jesuítas, livros e objetos, esta exposição visa explorar os acontecimentos articulados e polifónicos dos primeiros encontros entre o Japão e a Europa.
O título da exposição é retirado de forma livre do capítulo
Do escrever dos japões e de seus livros, papel e tinta e cartas, da obra do jesuíta português Luís Fróis (1532-1597),
Tratado em que se contêm muito sucinta e abreviadamente algumas contradições e diferenças de costumes entre a gente de Europa e esta província de Japão, escrita em 1585. Este texto, estruturado em modo de comparação e de confronto entre as culturas europeia e japonesa, revela a sensibilidade e capacidade de observação de Fróis, convidando-nos a recordar que a alteridade, mesmo a mais extrema, não exclui a possibilidade de nos reconhecermos e respeitarmos como parte de uma mesma humanidade.