Historiador Oliveira Marques encontrou a morte aos 73 anos

Isabel Peixoto *

Portugal perdeu anteontem um dos nomes mais marcantes da sua cultura. Aos 73 anos, o historiador Oliveira Marques sucumbiu a complicações cardíacas, deixando atrás de si uma vida de dedicação à investigação e ao ensino. Especialista em História Medieval, foi também um homem de lutas políticas durante o Estado Novo, tendo, por isso, conhecido o exílio. Deixou vasta obra publicada.

Nasceu em S. Pedro do Estoril, Cascais, a 23 de Agosto do mesmo ano em que Portugal conhecia o início de vigência do Estado Novo 1933. Foi durante esse regime, que havia de prolongar-se por 41 anos, que António Henrique Rodrigo de Oliveira Marques se viu afastado do ensino, por ter apoiado a greve académica de 1962 e outras lutas estudantis contra a ditadura. Na altura, era assistente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Enquanto esteve exilado nos Estados Unidos - de 1965 a 1970 -, leccionou em diversas universidades. No nosso país, só foi autorizado a voltar ao ensino após o 25 de Abril de 1974, ano em que assumiu também o cargo de director da Biblioteca Nacional (até 1976). Entretanto, tornou-se professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa, tendo presidido à comissão instaladora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da mesma instituição. Jubilou-se em 2003.

Coragem cívica e capacidade de trabalho são qualidades que lhe apontavam os que de perto lidavam com ele, sobretudo nos meios académico e científico, tanto em Portugal como no estrangeiro. Oliveira Marques licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas e dedicou grande parte do seu trabalho a duas áreas essenciais da historiografia portuguesa História Medieval e História da República.

Iniciado "maçon" em 1973, chegou a ser grão-mestre adjunto do Grande Oriente Lusitano. No ano de 1998, o então presidente da República, Jorge Sampaio (que hoje mantém "vivas recordações" do período das lutas académicas), condecorou o historiador com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade. No ano anterior, Oliveira Marques tinha recebido o doutoramento "Honoris Causa" pela Universidade de La Trobe, na Austrália.

Proferiu numerosas conferências (Europa, Estados Unidos, Brasil e Argentina) e publicou mais de 60 volumes de obras em tomo, além de ter coordenado várias publicações. "História de Portugal" é a sua obra mais conhecida e foi traduzida em castelhano, francês, inglês, japonês e polaco. Traduzido para inglês foi igualmente o livro "A sociedade medieval portuguesa", um dos muitos escritos que deixou sobre a Idade Média.

Oliveira Marques faleceu em Lisboa, no Hospital de Santa Maria. O seu corpo encontra-se em câmara ardente no Palácio Maçónico, no Bairro Alto, e o funeral segue hoje, pelas 14 horas, para o cemitério lisboeta dos Prazeres.

* Com Lusa

(Jornal de Notícias, Lisboa, 25 Jan. 2007)

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