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Raúl Rêgo, bibliófilo

MOSTRA | 15 abril - 1 junho | Sala de Referência | Entrada livre


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Qualquer estudioso do livro português conhece o valor dos estudos, em forma de ensaio, que Raúl Rêgo assinou, ao longo da sua vida, nos diferentes jornais em que colaborou. Eram crónicas realizadas com o conhecimento profundo e sábio de um homem culto, que lia, estudava e amava os livros que lhe chegavam às mãos. É certo que Raúl Rêgo colecionava livros, era um dos grandes bibliófilos portugueses. Mas colecionar livros é diferente de ser bibliófilo; e ser bibliófilo também é diferente de ser um estudioso e um expert no assunto: é que um livro cerrado não traz cultura! Mas o bibliófilo não gosta apenas do livro pelo conhecimento (ou divertimento) que o mesmo lhe pode proporcionar... gosta do livro pelo cheiro, pelo formato, pela época em que foi feito, pelo autor que o escreveu, pela tipografia que o imprimiu e, também, pelo seu conteúdo. Enfim, gosta do livro pelo livro. E Raúl Rêgo era esse expert, esse bibliófilo, que se passeava de livraria em livraria na busca de saciar o seu prazer infinito. Depois de ter caçada a presa, anotava-a, estudava-a e, na maioria das vezes, escrevia sobre ela.

 

A Biblioteca Nacional de Portugal organiza, neste momento em que passa o centenário do seu nascimento, uma mostra evocativa desse bibliófilo. Mostra que faz uma viagem entre alguns dos seus livros, objetos de estudo e de coleção – o que nos legou desses anos de investimento. A escolha incidiu entre os livros do século XVI, escolhendo daqueles apenas os que não existem nas coleções da própria BNP. É a oportunidade para o público entrar em contacto com os tesouros que ajudaram a formar a cultura do intelectual. Quando se conseguiu localizar a(s) crónica(s) que Raúl Rêgo dedicou ao mesmo livro, essa crónica é também apresentada.

 

Para além desses “meus livros” – nome retirado de uma das suas crónicas narrativas – apresentam-se, também, alguns livros (ou catálogos de livraria ou de leilões) que Raúl Rêgo apresentou, prefaciou, divulgou ou estudou.

Apontamento biográfico:

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Raul Rêgo – Jornalista, defensor dos direitos cívicos, republicano, democrata e Pena de Ouro da Liberdade (1976).
Raul d’Assunção Pimenta Rêgo (Morais, Macedo de Cavaleiros, 15.04.1913 - Lisboa, 1.02.2002). Formado em Teologia (1936), mas nunca ordenado padre, afastou-se cedo da Igreja.


Começou a sua atividade como professor - profissão que teve de abandonar por pressão do Governo – enveredou pelo jornalismo: Seara Nova (1937), Agência Noticiosa Reuters (Portugal), Jornal do Comércio (1942-1971) e Diário de Lisboa (1959-1971). Uma nova fase da sua vida de jornalista começou no jornal República, em 1971, quando integrou a direção deste vespertino lisboeta (um dos principais jornais defensores dos direitos cívicos e democráticos durante o Estado Novo) que acaba, em 1975, devorado pela própria Revolução, por não querer abdicar dos seus princípios. Raul Rêgo passa a dirigir A Luta, jornal criado em 1975, tendo por base os mesmos valores.

 

Desde sempre democrático e republicano, a sua presença foi uma constante nas principais manifestações cívicas e anti opressão, tendo conhecido a cadeia por mais de uma vez. Ajudou a fundar o Partido Socialista, em 1973. Foi deputado, ministro e presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, depois da Revolução de Abril (1974). Entrou para a Maçonaria, quando esta organização se encontrava em clandestinidade (1971), sendo Soberano Grande Comendador (1984-1988) e Grão-Mestre (1988-1990), no Grande Oriente Lusitano.


Conciliou a sua vida de jornalista e de político com a de homem da cultura, como escritor e como historiador. Como Humanista que era, tinha como exemplo Erasmo e como paixão os livros – que colecionava e estudava, sendo um dos principais Bibliófilos portugueses.


No mínimo que fazia, colocava sempre e sempre os valores da dignidade humana acima dos seus interesses. Tome-se, apenas como exemplo: a denúncia dos atos da Inquisição aproveitando, assim, para denunciar os procedimentos da polícia política. Entre as muitas obras que escreveu destaquem-se três, como exemplos das suas preocupações e interesses: História da República, Lisboa, 1986; O último regimento da inquisição portuguesa, Lisboa, 1971; O processo de Damião de Goes na Inquisição, (2.ª ed, Lisboa, 2007).


João Alves Dias