Tomé Pires, nascido presumivelmente em Lisboa, morador na Madalena, boticário do Rei Dom Manuel, por este mandado à Índia em 1511 como “feitor e vedor das drogarias”, passou sucessivamente por Cochin (1511-1512) e Malaca (1512-1513), onde inquiriu, com descrição minuciosa, sem adornos de estilo, mas incontida inclinação para o humor – e até para a revelação de coisas escabrosas para o tempo – a origem e atributos das drogas e especiarias que faziam a fortuna da Coroa.
Missão cumprida e cabedais amealhados, foi-lhe negado o regresso ao Reino por Lopo Soares de Albergaria, que o mandatou para encabeçar uma embaixada à China por ser o “mais hábil e apto que podia ser, para além de ter pessoa, e natural discrição com letras, segundo sua faculdade, e largo de condição, e aprazível em negócios, era curioso de inquirir, e saber as cousas, e tinha um espírito vivo para tudo” (João de Barros).
No Império do Meio perdeu-se-lhe o rasto, após execução dos seus companheiros por ordem dos mandarins, mas ali terá placidamente morrido, já entrado nos anos, deixando como filha uma Inês de Leiria, que Mendes Pinto encontraria em 1543 no decurso da sua Peregrinação.
Tomé Pires ressuscitou para os vivos pela mão de Armando Cortesão em finais da década de 1930, quando o manuscrito há muito perdido – da biblioteca de Dom Jerónimo Osório fora parar às mãos de um corsário inglês e, depois, vendido a um bibliófilo francês que o arrematara em Londres – aguardou um século na Biblioteca da Assembleia Nacional de França.
Editado em inglês em 1944, em Portugal só conheceria a letra de forma em 1976.
A mostra evocativa de Tomé Pires inclui a “versão inacabada” e rascunhada da Suma existente na Biblioteca Nacional de Portugal.