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O império informal dos portugueses na Ásia
MOSTRA | 31 mar. - 30 maio '22 | Sala de Referência | Entrada livre


imperio_informalPara lá do império formal português no Oriente, cujo estudo tem conhecido grande incremento ao longo das últimas décadas, a historiografia portuguesa sobre as populações na periferia e ultraperiferia mantém-se relativamente modesta. Alguém um dia referiu-se a um Império Sombra português para lá de Goa. Outro autor deu-lhe o nome de Império Informal, igualmente pertinente, pois que a presença portuguesa na Ásia teve sempre a animá-la grande dose de iniciativa individual. Tal império não tinha sido nem comprado, nem conquistado, nem financiado por Goa, mas fora povoado de forma pacífica, em grande medida por soldados Casados retirados do serviço ativo, bem como por aventureiros e fugitivos.

A unidade básica destas comunidades era o bandel, bendel ou kampong, aldeamentos e povoações ocupadas por populações religiosamente homogéneas, culturalmente bifrontes, de dimensão e densidade populacional variável e existentes sobretudo na fachada marítima da Ásia do Sul, do Sudeste-Asiático continental e da Insulíndia. Centradas em torno de um templo, lugar de culto ou edifício onde se reproduzia a inculturação, autocéfalas, com uma hierarquia vincada, e possuindo uma estrutura social centrada na família nuclear, estas povoações exibiam clara especialização económica e produtiva que as transformava em unidades sociais distintas das circunvizinhas. Os bandeis e os kampong podiam, assim, ser aldeias isoladas, mas também bairros instalados em zonas periurbanas, distinguindo-se do restante tecido envolvente pela forte identidade cultivada pelos seus membros. No subcontinente indiano, no golfo de Bengala e no Sudeste-Asiático pré-moderno e moderno, mas também na costa oriental de África, foram os agentes por excelência da intermediação comercial, linguística e religiosa com o mundo exterior e detiveram, até ao advento do Estado-nação ou da colonização direta, foros e liberdades muito similares a comunas.

imperio_informal2Sob autoridade de um chefe (kapitan) – que mantinha a ordem graças a um corpo de polícia, dirimia disputas entre comerciantes, aplacava litígios sobre posse de bens e propriedades e representava o seu povo perante a corte local – existiram bandeis absolutamente espontâneos, produto do assentamento de um punhado de portugueses que ganharam influência na relação que estabeleceram com os governantes locais, a quem pagavam tributo, exterminavam os inimigos e limpavam as costas de piratas. Essas comunidades e os seus negócios eram toleradas e permitia-se-lhes a prática da religião católica e, até, a assistência espiritual de padres ao serviço do Padroado. Outros bandeis, foram disciplinados por regime de concessão especial através de atos unilaterais dos governantes locais, sem que nesse contrato se fizesse representar o Estado da Índia.

Quem eram os habitantes destes bandeis? Quando os europeus chegaram ao Oriente, receberam os exónimos genéricos de muzungos (Moçambique), feringi (Índia), farang (Sião), ferengi (península Malaia) ou falangxi (China), supostamente importados do árabe frank (Franco). Depressa, porém, ao exónimo – que ainda se mantém e se traduz hoje por estrangeiro branco – juntaram-se outros adjetivos, uns de carga pejorativa, outros procurando caraterizar com maior precisão os forasteiros de tez clara vindos dos mares ocidentais: bengali puthe (branco de Bengala) e nasrani (nazareno) e serani entre os malaios, gwailo (fantasma) na língua cantonense. Com a disseminação dos portugueses pela Ásia e o surgimento de comunidades cristãs nascidas das uniões com os naturais, bem como da conversão de locais à religião dos forasteiros brancos, os cristãos mestiços e os conversos passaram a referir-se ao seu grupo com o autónimo que melhor correspondia à natureza da diferença: protuket (Sião), kristang ou genti kristang (península Malaia), hoalang, ou «seguidores da religião dos portugueses» (Vietname).

O percurso documental proposto integra monografias, periódicos, gravuras, mapas e fotografias e divide-se tematicamente em seis núcleos: África Oriental, Índia e Ceilão (Sri Lanka), Birmânia (Myanmar), Sião (Tailândia) e Camboja, Malásia e Insulíndia (Indonésia) e Macau, Hong Kong e Xangai.