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Cruzeiro Seixas: o último dos surrealistas portugueses

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Cruzeiro Seixas (1920-2020)

NOTÍCIA | 8 nov. '20

 

 

Quase a completar 100 anos, faleceu a 8 de novembro o mestre Cruzeiro Seixas, deixando marca indelével no panorama cultural da sua geração. Pintor, ilustrador e poeta com obra vasta e variada mas sempre inconfundível, era considerado o último dos surrealistas portugueses.


Cruzeiro Seixas inicia em 1935 formação artística na Escola António Arroio, onde conheceu artistas com quem participaria, em 1943, nas tertúlias do Café Herminius - Cesariny, Vespeira, Fernando Azevedo, António Domingues, Fernando José Francisco, Júlio Pomar. Integra o Grupo Surrealista de Lisboa, em 1947 e participa na I Exposição dos Surrealistas em 1949 e, na do ano seguinte, Os Surrealistas, segunda exposição do grupo.


Em 1951 viaja pelo mundo ao serviço da marinha mercante, e fixa-se em Angola no ano seguinte, permanecendo em Luanda até 1964, onde desenvolve significativamente a sua obra, realiza a primeira exposição individual e trabalha para o Museu de Angola. Regressado a Lisboa, é consultor da Galeria S. Mamede (ca 1964-69) onde expõe Mário Cesariny, Vieira da Silva, António Areal, Carlos Calvet, Júlio ou Jorge Vieira, contribui para a promoção de novos artistas, como Mário Botas e Raúl Perez, e apresenta pela 1ª vez em Portugal obras de Henri Michaux e do Grupo surrealista CoBra. Em 1969 participa na XII Exposição Surrealista de S. Paulo e, com Mário Cesariny, na Exposição Internacional Surrealista, na Holanda, sendo também nesse ano que organiza a sua primeira exposição retrospetiva, em Lisboa, na Galeria Buchholz.


Posteriormente dirigiu a Galeria da Junta de Turismo da Costa do Sol (1976-83) e a Galeria D’Arte (1985-88), e colaborou em diversas exposições em Portugal e no estrangeiro, recebendo em 1989 o Prémio Artista do Ano do Centro de Arte SOCTIP, com a sua exposição individual Desaforismos. Manteve atividade expositiva regular nos anos 2000, designadamente na Galeria Perve que, em 2006, exibiu Cesariny, Cruzeiro Seixas, Fernando José Francisco e o Passeio do Cadavre Esquisito, marcando o reencontro dos pintores, ao fim de 50 anos. Em 2009 a mesma galeria promove Os Surrealistas 60 anos após a I exposição e a Reitoria da Universidade de Lisboa organiza a exposição e o catálogo Tapeçarias e Desenho de Cruzeiro Seixas.


Cruzeiro Seixas trabalhou também como ilustrador nas edições de A cidade queimada: poema e Titânia (2007), de Mário Cesariny (1965), Antologia da Poesia Erótica e Satírica (1966), organizada por Natália Correia, Imagem devolvida: poema-mito (1974) e Casos do Direito Galatico: o mundo inquietante de Josela (1975), ambos de Mário Henrique Leiria, Le Livre du Tigre (1976), de Isabel Meireles, ou Do General ao Cabo Mais Ocidental (1976), de Álvaro Guerra. Colaborou nas revistas surrealistas Brumes Blondes (Holanda), La Tortue-Lièvre (Canadá), Derrame (Chile) e nas francesas Infosurr, Phases e Ellebore, entre outras.


A sua bibliografia regista as obras Eu falo em chamas: poemas (1986), Poemas (1990), O que a luz ocupa: poemas (2000), Obra Poética (3 vol., 2002-04), Onze gavetas forradas de espelho: poemas inéditos (2018) ou Nos labirintos que inventei (2019).


Artista representado em diversos museus, doou a sua coleção à Fundação Cupertino de Miranda, em 1999, para a criação de um Centro de Estudos e Museu do Surrealismo. Em 2012 recebeu a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores e em 2018 foi homenageado por Marcelo Rebelo de Sousa e pelo Centro Português de Serigrafia, editor há largos anos da sua obra, que publicou, na ocasião, o Catálogo de Obra Gráfica e Múltiplos de Arte do artista. Em 2020, foi galardoado com a Medalha de Mérito Cultural pela Ministra da Cultura, Graça Fonseca.

Em 1993 Cruzeiro Seixas doou parte do seu espólio à BNP (Esp. N38), compreendendo boa parte do seu epistolário, com destaque para cartas recebidas, o arquivo de imprensa, catálogos e folhetos publicados pelo Grupo Surrealista e mais de 400 desenhos e colagens representativos das várias expressões plásticas da sua obra.  Em 2021, a Biblioteca Nacional comemorará o centenário de Cruzeiro Seixas com uma exposição baseada neste espólio e comissariada por Bernardo Pinto de Almeida.