Apresentação por José Eduardo Franco da obra de Daniel Pires, editada pela Imprensa Nacional, com nova interpretação, documentos inéditos e dados biográficos desconhecidos do poeta Manuel Maria de Barbosa du Bocage.
Em 1794, Pina Manique, baseado em meras suspeitas, encarcerou Vincenzo Lunardi, o primeiro ser humano que desafiou a gravidade, voando no seu balão aerostático, em Itália, Espanha, Portugal e no Reino Unido. Bocage compôs um poema, lamentando publicamente a forma como o italiano fora tratado. Aquele dirigente, na primeira oportunidade, procedeu a um ajuste de contas: mandou deter o escritor, que disseminava pelo reino poemas subversivos e levava uma vida pouco convencional e atribulada.
A favor de Bocage maquinaram, na sombra, três ministros: destruíram o documento revolucionário que ele tinha no momento da detenção e forjaram um outro que era consideravelmente menos gravoso. O que terá unido aqueles governantes para salvar o poeta – que era apologista da Revolução Francesa – de uma punição que Pina Manique pretendia exemplar?
A resposta encontra-se em Bocage ou o Elogio da Inquietude. Nesta obra são igualmente revelados factos, em grande parte inéditos, sobre o autor: a iniciação na Maçonaria, as origens familiares e a estada do progenitor na prisão, injustamente acusado de desvio de fundos, a educação formal, o seu périplo no Brasil, em Moçambique e no Oriente, as duas deserções das forças armadas, os encarceramentos que vivenciou, o trauma da passagem pelos meandros sinuosos da Inquisição, a reeducação a que foi submetido, a boémia pelos cafés e botequins, a poesia amorosa e satírica, a autoria do primeiro manifesto feminista português, redigido em verso, o falecimento, em agonia, aos quarenta anos, e o arremesso para a vala comum dos seus restos mortais.
Como corolário de uma investigação aturada em várias bibliotecas e arquivos nacionais, são agora divulgadas várias facetas inéditas da sua personalidade e obra, derrubando-se alguns equívocos que a tradição tinha consolidado.