Foi com grande pesar que a Biblioteca Nacional de Portugal recebeu a notícia do falecimento do Professor António Manuel Hespanha, assíduo leitor desta casa, proeminente vulto da cultura portuguesa cuja obra incontornável, de amplo espectro, transdisciplinar e inovadora marca de forma decisiva as áreas de conhecimento a que dedicou a sua vida de académico. Jurista e historiador, desenvolveu docência na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, na Universidade Autónoma Luís de Camões, na FCSH da Universidade Nova de Lisboa, tendo ainda exercido docência em Yale, Berkeley, Macau, Messina e na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris. Doutor
honoris causa pela Universidade de Lucerna (Suíça) e pela Universidade Federal de Curitiba (Brasil), foi um dos académicos da sua geração mais conhecidos fora de Portugal, com obra traduzida em várias línguas e muito considerada em Espanha, França, Itália, Alemanha, Argentina e, sobretudo, no Brasil, onde deixa muitos discípulos.
Um dos seus trabalhos decisivos,
As Vésperas do Leviathan, sobre o sistema de poderes das monarquias europeias na época da estruturação do Estado moderno, foi crucial para o desenvolvimento do estudo do Antigo Regime em Portugal. Paralelamente, interessado na matéria portuguesa ultramarina, sobretudo atentando na informalização “abaixo do Estado” nas periferias, desenvolveu importante e surpreendente trabalho teórico sobre a vitalidade e estratégias sociais, culturais e políticas das populações vivendo ou não sob jurisdição da Coroa Portuguesa, de que a sua última obra
Filhos da Terra. Identidades Mestiças nos Confins da Expansão Portuguesa (2018) é eloquente testemunho.