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2.ª - 6.ª 09h30 - 19h30

sáb.  09h30 - 17h30

 

De 17 jul. a 16 set.:
2.ª - 6.ª: 9h30 - 17h30

 

 

 

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Apoio:




Teixeira de Queirós (1848-1919)

DESTAQUE | 1 - 31 jul. ´19 | Sala de Referência | Entrada livre


“O romance … abrange o existir completo e intenso, desde o verme da terra ao sábio, ao filósofo, ao estadista, ao milionário, cérebros e corações abarrotados de factos, de noções, de princípios, de inspirações, de cobiças e de desejos de domínio.”

(Teixeira de Queiroz, “A Razão da Minha Obra”, in Os Meus Primeiros Contos, 3.ª ed. corrigida, Lisboa, 1914, p. XI.)


Teixeira de Queiroz (1848-1919), que chegou a utilizar o pseudónimo de Bento Moreno, foi autor de duas séries de romances que fixaram a experiência portuguesa do final do século XIX e início do século XX: a Comédia do Campo e a Comédia Burguesa. Na primeira, encontram-se títulos como Cenas do Minho (1876), Amor Divino (Estudo Patológico de uma Santa) (1877), António Fogueira (1882), Novos Contos (1887), Amores, amores… (Psicose do Amor) (1897), A Nossa Gente (1899), A Cantadeira (1913) e Ao Sol e à Chuva (1916). A segunda inclui Os Noivos (1879), O Salústio Nogueira: Estudo de Política Contemporânea (1883), D. Agostinho (1894), Morte de D. Agostinho (1895), O Famoso Galrão (1898), A Caridade em Lisboa (1901), Cartas d’Amor (1906) e A Grande Quimera (1919). Algumas destas obras foram objecto de reescrita, notando-se alterações de título (as Cenas do Minho passam a Os Meus Primeiros Contos), de sentido (o Amor Divino perde o espírito anticlerical) e de volume (Os Noivos e O Salústio Nogueira são amplamente refundidos).

Revelando estima pelo modelo de um Balzac, Teixeira de Queiroz procede como se estivesse totalmente empenhado na escrita de um único romance, o romance da vida portuguesa na aurora do século XX. Este projecto literário expressou-se também em contos, numa peça de teatro (O Grande Homem, 1881), em ensaios (As Minhas Opiniões: Estudos Psicológicos e Sociais, 1896) e em textos sobre vultos da cultura (Gonçalves Crespo, Conde de Monsaraz, Sousa Martins, A. A. Teixeira de Vasconcelos, Alexandre Herculano, João Penha, Maria Amália Vaz de Carvalho, etc.).

Nas séries romanescas, encontra-se a aldeia mas também a grande cidade, o caçador e o deputado, a mulher supersticiosa e o cientista sofisticado, o sacerdote e o médico, o feirante e o anacoreta, o mendigo e o empresário cosmopolita. Os animais mereceram muitas páginas, dos domésticos e dos montes aos cobaios da ciência.

Um leitor do século XXI não pode deixar de se surpreender com as reflexões premonitórias que Teixeira de Queiroz dedicou, por exemplo, aos perigos sociais da tecnologia e aos direitos dos animais. A rica troca de ideias entre personagens com sentido da responsabilidade social do romance filosófico A Caridade em Lisboa constitui um exemplo acabado de uma literatura que não é estranha aos desafios da sociedade em que vive.

A formação médica do escritor contribuiu para que muitos dos seus textos expressem os dilemas de uma sociedade que se sentia dividida entre os costumes ancestrais e as inovações técnicas e científicas que aconteciam a grande velocidade. Vários romances descrevem a actividade económica baseada em inovações científicas (D. Agostinho, O Famoso Galrão), assinalando os perigos dos excessos de optimismo, e outros fazem uma reflexão sobre o alcance dessas inovações (A Dor e A Grande Quimera).

Estes e muitos outros aspectos da vida portuguesa foram esboçados numa prosa equânime, limpa de excessos de ironia, como se o escritor tentasse fazer literatura com o cuidado que todo o cientista dedica ao método. Sendo verdade que o ideal de romance crítico está presente, discerne-se também um amor intelectual pela velha tradição sapiencial ligada a magistrados sábios (O Juiz de Soajo e Julgamento Secreto), ao conhecimento esotérico (Amores, amores) e a personagens de vida radicalmente livre (Ao Sol e à Chuva).

Este amigo de Camilo, deputado, administrador de empresas, presidente da Academia de Ciências de Lisboa e Ministro dos Negócios Estrangeiros tem estado arredado do cânone literário, talvez injustamente. O centenário da sua morte é, pois, uma oportunidade para ler Teixeira de Queiroz.

Manuel Curado