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Uma «insólita ofensiva de corrupção»:

nos 50 anos dos processos à Afrodite no Tribunal Plenário

COLÓQUIO | 29 mar. '16 | 18h30 | Auditório BNP | Entrada Livre

No dia 29 de março de 1966, o agente da Polícia Judiciária Henrique Parente enviou aos seus superiores um relatório onde se lia: «consta estar à venda e em circulação um livro pornográfico, protótipo de desmoralização». O livro em causa era A filosofia na alcova do Marquês de Sade, terceiro livro de uma tal Afrodite, chancela editorial pela qual dava o nome um jovem portuense radicado em Lisboa, Fernando Ribeiro de Mello (1941-1992). Juntando-se ao processo já em preparação contra a anterior edição da Afrodite, a Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, o relatório do agente Parente marcou o início do segundo processo por edição de obras consideradas obscenas, os quais acabariam por ser julgados no Tribunal Plenário de Lisboa entre 1966 e 1970.

Dos sete livros que lança no seu ano de arranque, a Afrodite verá os seis primeiros consecutivamente proibidos, algo inédito na história da censura do Estado Novo, que em 1966 cumpria 40 anos. Em setembro desse ano, o censor Joaquim Palhares não hesitava: a Afrodite constituía uma «insólita ofensiva de corrupção» que era necessário expurgar. Tal como acontecera em França com Jean-Jacques Pauvert pela edição do mesmo Sade, nos Estados Unidos com a Grove Press pelas edições de Henry Miller ou em Inglaterra com a Penguin pela edição de O Amante de Lady Chatterley de D.H. Lawrence, em Portugal a Afrodite e o seu editor viram-se na vanguarda de uma batalha internacional pela liberdade de publicar textos de relevância literária considerados «obscenos» pelos poderes censórios oficiais. Não tendo obtido as vitórias que os seus congéneres franceses e americanos conquistaram, nem conseguindo mudar o curso da rígida máquina censória do Estado Novo, Ribeiro de Mello adquiriu, ainda assim, graças a esses dois processos, uma fama de editor «rebelde», «marginal» e «contrário», que lhe garantiu um sólido proveito assim que o regime mudou para o consulado de Marcello Caetano em 1968: gerindo com mestria o equilíbrio entre as folgas que a «primavera marcelista» parecia conceder e a permanência de uma censura sofisticada e implacável, a Afrodite atingiu o zénite como pequeno projeto editorial alternativo entre 1968 e 1974, publicando livros notáveis e, através da figura do seu proprietário, oferecendo apresentações que se tornaram lendárias, verdadeiras performances do «Dali de Lisboa», animando o cinzentismo da «feira cabisbaixa» que era a capital a caminho da Revolução. 

Este colóquio, organizado por Pedro Piedade Marques, autor da obra Editor contra: Fernando Ribeiro de Mello e a Afrodite, será, portanto, um percurso pelos livros do «editor contra» Fernando Ribeiro de Mello, durante a última década da Censura em Portugal. Contará ainda com a presença do jornalista João Paulo Guerra e de João Pedro George, autor da biografia de Luiz Pacheco, Puta que os pariu, e do ensaio O que é um escritor maldito?. No início de 2017, comissariada por Pedro Piedade Marques, a BNP acolherá uma exposição sobre a atividade da editora Afrodite e do seu editor, Fernando Ribeiro de Mello.