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Folha de sala


Os dois últimos grandes publicistas:

Sampaio Bruno e França Borges

MOSTRA | 17 jun. - 11 set. '15 | Sala de Referência | Entrada livre

Pertencentes a meios e gerações diversos, os autores cujo centenário da morte se comemora viveram em comum um acontecimento central que marcou a evolução política portuguesa – a revolta republicana de 31 de janeiro de 1891 –, Sampaio Bruno como participante ativo, França Borges enquanto espectador atento no começo da sua atividade de jornalista. A mostra acompanha a principal bibliografia de ambos, num percurso histórico que desembocou no triunfo da República, o grande ideal dos dois publicistas.

No termo de um longo e penoso processo de crise de estatuto simbólico, o prestígio do intelectual de Oitocentos esgotou-se em fim de século na derradeira figura multifacetada do «publicista», até ao limite de um «cinismo carreirista» que uma personalidade como Mariano de Carvalho bem exemplificou, fundador do Diário Popular onde ganhou notoriedade jornalística, chefe de fila do Partido Progressista depois de passar pelos partidos Reformista e Histórico, deputado, ministro, membro de reais associações e reais academias, num sistema que caracterizou a promiscuidade das elites na transição do século XIX para o XX.

No momento em que a figura concorrente do «artista», já antes sacralizada no modelo fradiquista do último Eça de Queirós, procurou consagrar-se polémica e provocatoriamente na geração modernista do Orpheu, desapareciam em 1915 os dois últimos grandes «publicistas», porém na sua versão mais sincera de compromisso com valores de cidadania: o ensaísta e erudito Sampaio Bruno  (1857-1915) e o jornalista e empregado público França Borges (1871-1915) - a que deve juntar-se Ramalho Ortigão, coincidentemente desaparecido também nesse ano - marcaram como exceção ética o fim de uma época.

Bruno, de entre eles, foi, talvez com ingénua nitidez, quem fez a declaração fúnebre do estatuto simbólico desse tipo de intelectual, neste desabafo com a sua pena de escritor: «Olho para a minha pena. Trouxe-me ela a riqueza, a posição definida, a independência, a fortuna, a rutilância social, as considerações sociais?» Desiludido com a perda de poder simbólico da elite intelectual tradicional, solta a derradeira maldição sobre a sua pena: «Quase que começo a ganhar-te rancor e ódio.» Foi necessário esperar que a crise da República, sobretudo na crise de valores da meritocracia falhada nos inícios da década de 1920, para surgir o novo tipo de «intelectuais», que a si mesmos se designaram com esse substantivo plural, modelo dos intelectuais do século XX.

Cabeçalho: pormenor de A loucura de Tasso, Sampaio Bruno, Porto?, 1915? (BNP Esp. N22/6)
 
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