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De 5 de Fevereiro a 27 de Março - Entrada Livre

Dos livros que não se lêem...

... porque os ignoramos, porque os tememos, porque os aborrecemos, mas, também, porque nalguns deles os verbos têm uma semântica particular, indizível apenas através das nossas letras. Aliás, de onde vêm estas, afinal ? De um som, ou de um gesto ? De ambos, esquisitamente entrelaçados ?

O espanto que causam os “livros que não se lêem” de Rosa Guerra (poeta alentejano que poucos têm o prazer de conhecer) é um tanto este : Porquê explicar/desdobrar por letras o que melhor se explica/desdobra por outras figurações/fulgurações do sentido ?

Os traçados da lua e do sol, que qualquer infante pode reconhecer, um crescente, outro a cheio, dizem menos que aquelas palavras que usamos na escrita linear corrente ? Não. Dizem muito mais : dizem, também :

noite - dia, frio - calor, sombra – luz, escuro – claro, silêncio – ruído, dormir – acordar, sonho – vigília, descanso – trabalho, morte – vida, solidão – convívio, tarde – manhã, sossego – desassossego, sono – bulício, medo – realidade, passivo – activo, pensamento – conhecimento, família – amigos, abstracto – concreto, profano – sagrado, ausência – presença, calma – movimento, mal – bem, opaco – transparente, morte – nascimento, fim – princípio, pôr-do-sol – manhã, calma – agitação, breu – brilho, poesia – prosa...

...e por aí adiante. Acredite quem me lê : fiz, em tempos, essa pergunta a um grupo de alunos (...já falantes, é certo). Partindo daqueles astros, apenas nomeados, 32 jovens desenharam por letras (em alguns minutos, sossegadamente) 140 sentidos diversos, dos quais mais de uma centena são substantivos.

Mas esta exposição de Rosa Guerra, podia igualmente chamar-se “dos livros que, também , se lêem”. O que se desdobra aos nossos olhos, na fôrma (mais que na forma) de livro, enlaça desenhos, letras, fotografias, estranhas melodias, texturas vegetais e minerais (virá daí a observação de T. Paredes a «sus saberes de alquimista» ?), entre o mais que apenas suspeitamos.

Porque preferiu, então o nosso artista o título de “os livros que não se lêem” ? Sabe-se lá ! Talvez, um dia, o jovem Rosa Guerra tenha visto tudo o que o rodeia noutra “fôrma” (como não é dado ver ao comum dos mortais, entre os quais me encontro) e, sem desassossego algum, como uma criança que brinca com a realidade, tenha pegado num antigo livro “iluminado” por seu pai e dele tenha retirado os signos que encontrou a mais. Só pode ter exclamado: « ops ! o meu livro não se lê ! ».

O diagnóstico clínico de Rosa Guerra parece-me, pois, elementar. O João tem um problema (ligeiro) de visão, mas não de vista... Se assim não é, observe-se bem, por exemplo, o livro que intitulou Alexandria : A “casa”, nele, não tem conteúdo. É só logradouro. Mas não é um jardim qualquer. Como na outra , a antiga, é nele que melhor se pode explicar a obra de Teofrasto, o herdeiro, o que nunca visitou o Museu por lá ter chegado cedo demais...

A. B. O.


Horário de visita à Exposição: Dias úteis: 10h - 19h
Sábados: 10h-17h
Encerra domingos e feriados

Entrada Livre. Para mais informações sobre este evento contacte o departamento de Relações Públicas e Divulgação Cultural da Biblioteca Nacional.